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Professor da UERN recebe título de Doutor Honoris Causa no Canadá

O professor Constantin Xypas, do Campus Avançado “Maria Elisa Albuquerque Maia, de Pau dos Ferros (CAMEAM), receberá o título de Doutor Honoris Causa, da Universidade do Quebec, Canadá. Ele está sendo contemplado com a honraria pelo engajamento em favor da pesquisa e formação em Educação. Os estudos sobre a obra do célebre pesquisador Jean Piaget (1896-1980), professor na Universidade de Genebra (Suíça), também inspiraram a indicação, segundo Constatin. “A Universidade de Québec, Canadá, me deu a honra de me atribuir o Doutorado Honoris Causa pelo conjunto de minhas obras publicadas durante minha carreira na Universidade Católica de Angers, na Universidade do Québec em Três-Rios e na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte”, afirma o professor. A data da solenidade ainda não está marcada.

Professor-visitante, Constantin é francês e está na UERN há um ano. Nesta entrevista à Agência de Comunicação da UERN (AGECOM), o professor fala da felicidade de ser Doutor Honoris Causa, de estar numa universidade encravada no semiárido nordestino e poder fazer um bom trabalho, apesar das adversidades inerentes à região, e das lições que aprendeu com os colegas, alunos e população do oeste potiguar. Confira.

AGECOM – Professor, qual o trabalho que o credenciou a título tão valoroso como o de Doutor Honoris Causa, em Quebec?

CONSTANTIN- Segundo o Edital, a Universidade do Quebec, no Canadá francófono, me conferiu o título de Doutor Honoris causa para credenciar, em primeiro lugar, meu engajamento geral em favor da pesquisa e da formação em Educação, e em segundo lugar, minhas pesquisas sobre Jean Piaget (1896-1980), professor na Universidade de Genebra (Suíça). Formado em Ciências Naturais, ele se tornou célebre graças às suas contribuições principalmente na área da psicologia da inteligência, da criança, da ética e também da lógica e da epistemologia genética.

Porém, a contribuição de Piaget na área da Educação tinha uma ambiguidade: por um lado, ele publicou poucos textos sobre a educação e sem ligação evidente com as descobertas na área da psicologia genética; por outro lado, o sucesso mundial do construtivismo nas escolas, depois de sua morte, parece ser feito sem relação direta com ele. Então, qual é a verdadeira contribuição do Mestre na educação? Ele não tinha uma teoria educativa, ou ele ocultou sua relação com a educação e, neste caso por quê? E por que ele permaneceu como Diretor do Birô Internacional da Educação, de 1929 até 1968, uma instituição precursora da UNESCO, se não tinha interesse sincero pela educação?

AGECOM- E foi difícil descobrir o mistério de Piaget?

CONSTANTIN- Para responder a essas perguntas e descobrir o “mistério” de Piaget, pesquisei durante dezoito anos. Comecei pela infância e pela juventude de Piaget, com os problemas afetivos oriundos de dificuldades familiares, estudei a evolução da sua religiosidade, de suas ideias políticas, de suas concepções biológicas, a fim de descobrir sua visão do mundo. Estudei as vinte mil páginas que ele publicou sobre vários assuntos. Por fim, escrevi nove livros e dezenas de artigos sobre Piaget, entre 1981 e 2001, mostrando o pensamento implícito, quase “escondido”, do Mestre sobre a educação, mas também sobre a sociologia, a psicanálise, a afetividade, a política e mesmo o cristianismo.

AGECOM – Como o sr. se sente em receber honraria tão expressiva de uma Universidade Canadense?

CONSTANTIN- Na verdade, eu fui o primeiro a ficar surpreso em receber tanta honra porque apenas fiz somente meu trabalho de professor universitário. Depois, senti uma forte emoção pensando que meu mestre Piaget foi doutor Honoris causa de 30 universidades: Sorbonne (França), Oxford (Grã Bretanha), Moskva (Rússia), Yale (EUA) entre outros. Isso incita a humildade. Por fim, me senti orgulhoso porque o Edital menciona minha atuação em três universidades: a Universidade Católica do Oeste, na França, a Universidade do Quebec em Três-Rios e a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte! Desse modo, meus colegas podem compartilhar minha felicidade e meu orgulho.

AGECOM- Como europeu, conhecendo e tendo passado por instituições de vários continentes, qual a avaliação que o sr. faz da UERN?

CONSTANTIN- Minha experiência universitária inclui a Universidade de Atenas (Grécia), onde estudei Letras; as Universidades francesas de Caen, de Lyon 2 e de Paris 8 onde fiz o doutorado e o pós-doutorado; a Universidade Católica do Oeste onde atuei durante trinta anos e fui diretor dos estudos do doutorado em Educação, e a Universidade de Nantes (França) onde fui orientador de varias teses de doutorado; a Universidade de Constantine (Argélia) onde atuei durante cinco anos; a Universidade de Sherbrooke (Canadá) e a Universidade do Quebec em Três-Rios. Nessas duas, fui Professor convidado durante dez anos. Sem falar da ACISE, a Associação Católica Internacional de Instituições de Ciências da Educação onde durante seis anos fui Secretário Geral e visitei universidades da Grã Bretanha, Suíça, Bélgica, Holanda, Espanha, Portugal, Líbano, Israel…

AGECOM- Existia convite para outra universidade brasileira, além da UERN?

CONSTANTIN– Quando recebi o convite do Professor Gilton Sampaio, tinha uma proposta da USP por um contrato de seis meses. Entre a famosa USP e a UERN, especialmente CAMEAM em Pau dos Ferros, hesitei pouco para escolher a UERN. Por quê? As grandes universidades são elitistas e por isso têm excelentes resultados. Mas a UERN tem uma característica rara, a humildade: ela é uma universidade perto da gente, com campi em pequenas cidades, com vários estudantes provenientes da zona rural. E o mais emocionante é que vários professores reconhecem com orgulho que eles também são de origem popular e venceram, graças à vontade de aprender apesar das dificuldades econômicas e materiais. Aqui em Pau dos Ferros, o campus é pobre, mas tudo funciona graças à dedicação dos funcionários, dos professores e dos alunos.

AGECOM – Que tipo de experiência o sr. pode tirar de uma universidade encravada no semiárido nordestino?

CONSTANTIN- Eu sou aposentado da universidade francesa e além do mais minha esposa é brasileira de Recife, e professora na Universidade Federal de Campina Grande e nossos filhos são franco-brasileiros. Agora meu país é aqui.

Quanto à experiência de uma “universidade encravada no semiárido nordestino” é a de aprender que nenhuma dificuldade física ou econômica impede de aprender. Com minhas colegas fazemos duas pesquisas: a primeira, com alunos da zona rural de Portalegre, inclusive em quilombos, sobre alunos com destaque escolar apesar da grande pobreza. A segunda, aqui, no Campus de Pau dos Ferros com colegas que contam como venceram apesar da pobreza dos pais. Quando uma colega, hoje doutora, conta que foi empregada doméstica durante sua adolescência, é impossível não sentir orgulho, emoção e mesmo admiração.

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