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Boaventura de Sousa Santos destaca o papel das universidades no contexto de pandemia e neoliberalismo

A Assembleia Universitária que marcou os 52 anos da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) homenageou o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos.

Coube a Boaventura fazer a conferência de encerramento do evento de forma virtual. Em 2018, ele foi agraciado pela UERN com o título de Doutor Honoris Causa.

Boaventura iniciou a fala dele destacando os problemas que o mundo e o Brasil enfrentam e se estendem às universidades públicas. “As forças políticas de direita e de extrema direita não gostam do conhecimento plural que as nossas universidades nos ofertam. A universidade tem sido muito atacada e isso já vinha antes da pandemia”, analisou.

Ele citou o que classifica como “capitalismo universitário” que gera um subfinanciamento das universidades que as obriga a buscar receitas próprias. “Isso prejudica os serviços de extensão que deve estar à disposição das classes menos favorecidas”, exemplificou. “Os Departamentos viraram agências em busca de receitas próprias”, acrescentou.

O sociólogo destacou o impacto negativo do neoliberalismo para o ensino superior. “O neoliberalismo é contra um projeto nacional. A ideia de um projeto de país é hostil ao processo de globalização neoliberal que também é hostil à universidade pública e defende a universidade privada que um negócio como outro qualquer. O neoliberalismo é contra o ensino superior crítico”, declarou.

Boaventura também falou sobre os ataques à democracia que o Brasil vem sofrendo. “É um ataque de moral e religioso de violência política”, frisou. “Paga-se um preço muito alto porque isso afasta os melhores. O Rio Grande do Sul viveu isso com a nomeação do candidato que não foi o escolhido pela comunidade acadêmica por causa dessa vigilância moral e política. É um dano irreversível à universidade”, complementou.

No final do discurso ele voltou a falar sobre a relação da pandemia do novo coronavírus com as universidades apontando que elas se adaptaram com ajuda da Internet. “A universidade de uma maneira geral está tendo um comportamento extraordinário nesse período da pandemia. Sobretudo na prestação de serviços e na pesquisa”, analisou.

No entanto, ele demonstrou preocupação com o futuro das universidades após a pandemia. “Podemos ter a perversidade de transformar a universidade em um negócio on line. Seria o fim da universidade. A universidade está numa situação de bifurcação”, destacou.

Ele ainda destacou o livro que vai lançar nos próximos dias em que analisa as relações nas comunidades brasileiras e falou sobre o futuro das universidades após o final da pandemia. “A universidade tem que ser uma guardiã de valores”, afirmou.

Boaventura lembrou que a pandemia acentuou as desigualdades sociais no mundo e as universidades serão fundamentais para reduzir essas diferenças. “Essa desigualdade no Brasil é econômica e racial. As universidades precisam ficar atentas a isso”, frisou.

No final da conferência ele ainda falou das queimadas que assolam o país e desejou a UERN um bom ano acadêmico.

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