Depois de quase seis anos sob os cuidados do Projeto Cetáceos da Costa Branca, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, o peixe-boi-marinho batizado como Rosa foi devolvido à natureza na manhã desta sexta-feira (28), na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão, comunidade de Diogo Lopes, distrito do município de Macau/RN.
Para o professor Flávio Lima, coordenador geral do PCCB-Uern, a soltura de Rosa, dois meses depois da bem-sucedida devolução do primeiro animal ao habitat natural, no Rio Tubarão, é a confirmação da capacidade técnica instalada para a conservação e reabilitação da espécie ameaçada.
O peixe-boi Rosa foi resgatado em outubro de 2017, na Praia do Rosado, município de Porto do Mangue/RN, com poucos dias de vida. Tendo se desenvolvido bem, desde junho de 2022, ela estava no recinto de aclimatação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão. O recinto é uma área de 690m², em ambiente natural para adaptação dos animais às marés, correntes marinhas, salinidade e temperatura das águas, antes do retorno à natureza.
Assim como Gabriel, primeiro exemplar solto pelo PCCB-Uern no fim de maio passado, Rosa também recebeu um equipamento para monitoramento, por até um ano, por sinal VHF e via satélite. Os pesquisadores alertam que os rastreadores, presos aos corpos dos peixes-bois, podem chamar a atenção de banhistas e pescadores, mas que não tentem tirá-los, pois os dispositivos são essenciais para acompanhar o deslocamento e a adaptação dos animais ao ambiente natural.
“Os peixes-bois são herbívoros de topo de cadeia alimentar em relação às indicações ambientais. Ele é um sentinela ambiental, que indica o quanto o ambiente está saudável. Mas, acima de tudo, é uma espécie bandeira para conservação, que, ao longo das décadas, foi decaindo em população, sendo hoje uma das espécies de mamíferos marinhos mais ameaçadas de extinção do Brasil. O repovoamento de peixes-bois é um símbolo da conservação dos oceanos, e insere a Uern na agenda 2030 da ONU para o desenvolvimento sustentável”, ressaltou o professor Flávio Lima.
O resgate, reabilitação, estabilização, soltura e monitoramento de peixes-bois-marinhos são ações desenvolvidas no âmbito do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia Potiguar (PMP-BP), financiado pela Petrobras, como contrapartida ambiental para o licenciamento federal concedido pelo Ibama para as atividades de exploração e produção de petróleo e gás pela estatal. O PMP-BP é executado pelo Projeto Cetáceos da Costa Branca, por meio de convênio entre a Petrobras, a UERN e a Fundação para o Desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Rio Grande do Norte (Funcitern), e conta com a parceria do Idema e de ONGs que atuam na região.
Outros quatro peixes-bois permanecem sob os cuidados do PCCB-Uern na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão: Angelina, Aquitã, Gaia e Zé Grande, que será o próximo a ser reintegrado ao habitat natural daqui a dois meses.
Projeto Cetáceos da Costa Branca
O PCCB-Uern foi criado em 1998, como uma ação institucional de estudantes, professores, técnicos e moradores das comunidades, especialmente pescadores, inicialmente para levantamento de cetáceos na Costa Branca. Em 2009, foi iniciado o projeto de monitoramento de praias da bacia potiguar. A partir de então, o projeto se expandiu, estando hoje presente em cinco bases avançadas, com uma equipe de quase 80 pessoas, entre pesquisadores, moradores das comunidades contratados e voluntários, que atuam tanto na pesquisa quanto na educação ambiental.
Além do trabalho de resgate, reabilitação, estabilização, soltura e monitoramento de peixes-bois-marinhos, o Cetáceos mantém programas de conservação de aves, tartarugas-marinhas, golfinhos e baleias, e de monitoramento das condições ambientais locais e pesca artesanal.
“São várias ações desenvolvidas para conhecer a biodiversidade e difundir informações para a conservação dessa biodiversidade, conscientizando as comunidade sobre a relação que devem manter de forma positiva com os ambientes costeiros, marinhos e oceânicos do Rio Grande do Norte”, pontua o professor Flávio.
Amigo do peixe-boi
Antes da soltura de Rosa, as comunidades de Diogo Lopes, Barreiras e Sertãozinho, e representantes de órgãos públicos e de instituições parceiras que atuam em prol da conservação do peixe-boi-marinho na Ponta do Tubarão foram recebidas com uma programação cultural, durante a qual o PCCB-Uern homenageou com o título “Amigo do Peixe-boi” pessoas que contribuíram significativamente para o sucesso do programa de resgate, reabilitação, estabilização, soltura e monitoramento da espécie.
Foram homenageados o diretor geral do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente, Leon Aguiar; o gestor da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão, biólogo Ramiro Camacho; o representante do Centro Amagoa de Cultura e Meio Ambiente, José Élio da Silva Souza; o presidente da colônia de pescadores Z-41, Manoel Francisco de Souza; o representante do Conselho Pastoral dos Pescadores, Luis Ribeiro da Silva, e os tratadores de animais do projeto Erikson e Antônio Marcos da Silva.
“Estamos aqui tentando salvar uma espécie e toda uma cadeia que existe de relações animais. O envolvimento das
pessoas da comunidade é de extrema importância para a educação ambiental”, ressaltou o diretor geral do Idema, Leon Aguiar.
O tratador Antônio Marques da Silva é contratado pelo Projeto há 14 anos, no qual começou como voluntário, aos 15 anos de idade. Emocionado, ele disse que fez do resgate e da conservação dos peixes-bois a profissão dele.
Alerta
Em caso de encalhe ou avistagem de peixes-bois-marinhos com equipamentos de radiotelemetria, entre em contato com o PCCB-Uern através dos seguintes contatos:
Natal e região: (84) 9 9943-0058
Areia Branca e região: (84) 9 8843-4621