Texto: Vitória Araújo – Estagiária de jornalismo
O 30 de setembro, feriado municipal em Mossoró, é uma data de orgulho. Intitulada “Terra da Liberdade”, a cidade enaltece com orgulho o feito de ter abolido a escravatura em 30 de setembro de 1883, cinco antes da Lei Áurea.
Um dos fatores que levaram a essa antecipação foi a forte presença abolicionista na região, incluindo líderes políticos, intelectuais e membros da sociedade civil. Foi através de campanhas e debates sobre a necessidade de acabar com a escravidão que conseguiram o apoio de muitos moradores da cidade. Em 1913, a data foi decretada como feriado nacional, para celebrar a histórica libertação dos escravos.
Pensando nas narrativas construídas na história de Mossoró que o projeto de extensão da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), “Procurando Rafael” nasceu com objetivo de abordar a narrativa sobre o 30 de setembro, buscando destacar o protagonismo de personagens pretos e pretas em todo esse contexto de escravidão e emancipação dos escravizados na cidade de Mossoró. O projeto é realizado por professores e estudantes curso de História.
A coordenadora do projeto, a professora Aryana Costa, conta que por mais que a cidade tenha orgulho da data, em que cinco anos antes da abolição da escravidão foi realizado a emancipação das pessoas escravizadas, o “Procurando Rafael” vem questionando esse dia através de pesquisas. Seu foco principal são as narrativas sobre a abolição da escravatura na cidade e perguntando onde estavam as pessoas negras deste evento.
“A gente percebe que os sujeitos que aparecem, as memórias e lugares, são sujeitos das camadas mais elitizadas da cidade. E isso a gente afirma, ancorado em trabalhos de pesquisa, que já vinha questionando esse 30 de setembro há algum tempo aqui em Mossoró”, relata a professora Aryana.
As pesquisas são feitas através de trabalhos de professores, técnicos e estudantes do departamento de História da Uern. O Procurando Rafael também conta com o trabalho do pesquisador Jeferson Santos, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), onde ele encontra, através de jornais, o fato de que muitas das pessoas escravizadas em 1883 também mobilizaram o direito para comprar ou ajudar a comprar suas próprias alforrias, evidenciando assim, uma ação da própria parte das pessoas pretas da época.
“Então, onde estavam essas pessoas? Começamos a procurar em lugares já clássicos de pesquisa mossoroense e apesar de toda a dificuldade, a gente conseguiu encontrar”, complementou Aryana.
Simbolizando a busca por todas as figuras pretas que viveram e resistiram durante e após o processo abolicionista em Mossoró, Rafael, então seria uma das pessoas encontradas através das pesquisas. Ele está entre os 40 escravizados alforriados em 10 de junho de 1883. Após sua libertação foi nomeado como “Rafael Mossoroense da Glória” por Almino Affonso. Rafael é a única pessoa de cor, liberta ou escravizada, que é citada nos documentos.
“A gente está tentando bolar esse novo circuito para celebrar essa memória do 30 de setembro, uma memória que inclui então novos sujeitos para uma comemoração que já é bastante antiga na cidade”, frisou a coordenadora.