Texto: Iasmin Cardoso
A Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern) tem desenvolvido projetos de extensão que visibilizam narrativas e interagem com a comunidade acadêmica e externa. Um dos exemplos é o projeto intitulado como Procurando Rafael, realizado por docentes e discentes do curso de História da Instituição..
O Procurando Rafael busca contar a história do período de emancipação dos escravizados da cidade de Mossoró, comemorado no dia 30 de setembro, diante de narrativas e feitos de pessoas negras que não são lembrados, problematizando o apagamento racial nesse evento tão significativo para a história da população negra mossoroense.
No dia 8 de julho foi divulgado nas redes sociais do Projeto uma descoberta que trouxe um novo rosto para a história da cidade. A faceta de Rafael Mossoroense da Glória — única pessoa negra entre os abolicionistas de Mossoró e figura que dá nome ao projeto — foi revelada por meio de uma imagem ilustrativa produzida em 1924, considerada a representação mais próxima que se tem de Rafael.
“Essa descoberta é importante porque dá um rosto a uma figura da história de Mossoró que foge da tradicional ligação com as elites, ajudando a construir uma narrativa mais plural e inclusiva. Ela também destaca a importância dos documentos nos acervos e reforça a necessidade de valorizar tanto esses materiais quanto às políticas de preservação e as pessoas que trabalham com eles”, comenta a coordenadora do projeto e professora do curso de História da Uern, Aryana Costa, sobre a importância de descobertas como essa para o desenvolvimento de pesquisa do projeto.
A participação ativa dos estudantes nas pesquisas desenvolvidas pelo projeto é essencial para o fortalecimento e a valorização da memória negra de Mossoró. “Participar dessa descoberta foi revigorante e recompensador, pois representa o auge do nosso trabalho ao dar voz e identidade a pessoas historicamente subalternizadas, unindo o papel do historiador ao compromisso cidadão”, relata Pedro Henrique, estudante de História e bolsista PIBIC do projeto.
A pesquisa foi feita em parcerias com fontes que preservam memórias e vivências nos seus acervos: como o Museu Lauro da Escóssia e o Acervo da Coleção Mossoroense. Dessa forma, possibilitando a construção de um trabalho acadêmico com dimensão político-cultural que evidencia a luta histórica abolicionista e conscientiza a população.
O projeto continuará como está, sem mudança de nome. Rafael se tornou um símbolo da história étnico-racial de Mossoró, especialmente ligado às discussões sobre 30 de setembro e o pós-abolição. E o seu rosto encontrado está disponível para ser utilizado como material didático por professores. “O projeto representa a procura também por outras figuras negras invisibilizadas. O objetivo é manter a discussão sobre a temática”, destaca Aryana Costa.