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Projeto de combate às drogas encerra atividades por falta de doações

Após 10 anos, o projeto “Um Olhar Multidisciplinar das Drogas na Escola” pode ter chegado ao fim nesta quinta (21).

O projeto, idealizado pela professora Maria Audenora das Neves Silva Martins, fazia prevenção contra drogas, junto a crianças e adolescentes, na Escola Estadual Djalma Aranha Marinho, em Cidade Satélite, e na Casa do Bem.

Segundo a professora, o projeto era mantido pelos estudantes da UERN e alguns apoios que, com o passar do tempo, foram diminuindo.

Sem o apoio, o número de alunos atendidos pelo projeto caiu de 500 para 90. E a tendência era de cair mais ainda, com a redução dos apoios e falta de material para as oficinas, além de alimentação para os alunos. “Desse modo optei por encerrar o projeto, na escola onde começamos”, desabafa.

A professora informou que ainda espera algum retorno de empresas e instituições que possam ajudar para que o projeto não morra, pois muitos alunos e suas famílias foram beneficiados.

Em uma carta à sociedade, Audenora Martins falou sobre o projeto e seu sonho de continuar ajudando no combate às drogas e também à violência familiar.

Leia a carta da professora:

  

“UM OLHAR MULTIDISCIPLINAR DAS DROGAS NA ESCOLA”

Este mês, o projeto completa 10 anos de existência na sociedade natalense. É o projeto de extensão mais antigo da UERN na área. Prevenir as crianças sobre uso e abuso de drogas lícitas e ilícitas na família, na escola e na sociedade. E não precisamos nem mostrar a relação das drogas com a violência e a criminalidade, pois eles sabem muito bem. Durante as palestras e oficinas eles dão depoimentos do que vivenciam em suas famílias (pai que, bêbado, agredi esposa e filhos; parentes que morreram porque fumavam ou bebiam demais, colegas que foram mortos devido às drogas).

Essa talvez tenha sido nossa última intervenção nas instituições públicas por falta de apoio da sociedade civil e política do RN. Em março de 2003, as camisas para a realização do projeto foram doadas por um empresário de Fortaleza, pois comerciantes e empresários de Natal não queriam atrelar suas marcas as drogas. O PROERD também tem nos ajudado doando algum material e disponibilizando instrutores.

Tudo começou em março de 2003, quando eu, como educadora, vendo a necessidade de atividades mais sistematizada com relação às drogas dentro da escola, idealizei um trabalho diferente. A ideia foi levada para os alunos de Ciência da Religião que abraçaram a tarefa de planejar o olhar multidisciplinar das drogas na escola. Foi através da disciplina Didática que novas técnicas e metodologias foram criadas e planejadas. A ideia era de em cada disciplina buscar uma forma específica de trabalhar as drogas. E assim o projeto foi sendo construído.

A Extensão Universitária reflete o compromisso da universidade com a transformação da sociedade em direção à justiça, à sociedade e à democracia. O projeto “Um olhar multidisciplinar das drogas na escola” tem procurado desde que foi implementado na Escola Estadual Djalma Aranha Marinho, em Cidade Satélite, cumprir com o conceito de extensão como processo educativo, cultural e científico, buscando transformação numa área que vem, cada dia mais, chamando atenção da sociedade, devido ao uso da droga entre os jovens.

O projeto tem um diferencial: a metodologia lúdica. A temática é trabalhada em todas as áreas do conhecimento com sua especificidade. Através da História, traçamos para as crianças e jovens do ensino fundamental, o surgimento da droga na humanidade e sua evolução, desde a Antiguidade até nossos dias. Através da Geografia, traçamos sua trajetória no espaço geográfico, evidenciando, de forma didática, os municípios brasileiros que contribuem com o tráfico no Brasil. Com a Matemática, mostramos os dados estatísticos dos usuários e traficantes, além de evidenciar a quantidade de casos de violência e mortes envolvendo drogas. Pelas Ciências, os instrutores ressaltam os malefícios advindo do uso, especificando o que cada droga pode provocar, desde o uso abusivo de um comprimido para dor de cabeça até o crack. Na disciplina de Português, oferecemos a temática para a produção de textos livres e mensagens. No ensino das Artes, orientamos as oficinas com desenho, maquetes, paródias e danças. E sob o aspecto da religiosidade, ressaltamos os valores morais do ser humano, como amor, respeito a si e ao outro, solidariedade, cooperação.

COMO AGIMOS NA SALA DE AULA

A nossa postura no projeto durante as palestras é saber ouvir a criança e o jovem. A sala de aula é um espaço dialógico – existe uma troca de experiência. Nossos voluntários têm como objetivo trabalhar os conceitos científicos da temática. Existe toda uma preparação dos voluntários: estudos individuais, pesquisas e discussão no grande grupo, além da socialização da experiência de outros alunos que vêm participando do projeto desde sua implementação. Mas o medo de falar em público predomina nos voluntários. Por isso, as palestras são ministradas por um grupo de três a cinco alunos composto por cursos diferentes. Esta foi a estratégia utilizada para diminuir a timidez e a insegurança dos voluntários.

Com relação aos voluntários é o único projeto de extensão da UERN, no qualalunos de outras instituições podem participar como palestrantes e oficineiros. Temos alunos da UFRN, da Estácio, da UVA. Todos são bens vindos. Muitos procuram o projeto em busca de horas de atividades complementares, mas se apaixonam pelas crianças e jovens, pelas histórias de vida de cada um e voltam apenas como voluntários, mesmo sabendo que não terão direito ao certificado com carga horária.

SOBRE AS DOAÇÕES

As instituições públicas não têm materiais como cartolinas, lápis hidrocor, cola, réguas e papel ofício para as oficinas. Nós fazemos eventos na UERN para comprar esse material e pedimos também. No semestre passado, os lápis hidrocor foram doados por Gilésia, aluna da Estácio, que trabalha do Fórum Seabra Fagundes. Colas e durex foram doados por Paulo, aluno de Direito, que trabalha na Petrobrás. E assim a gente vem nesses 10 anos, pedindo para manter o projeto.

Arrecadar doações é um processo que demanda paciência e poder de persuasão. Começa o semestre, eu dou início aos contatos, buscando através da amizade a doação de material. Reportagens nos jornais e nas televisões são mostradas visando persuadir os prováveis doadores para o projeto. Essa tarefa é a mais cansativa, pois além de demandar tempo envolve gastos substanciais com ligações para celular. O processo funciona, mas demora. Por outro lado, quem pede não pode pressionar o doador – tarefa difícil quando se tem urgência. Muitas vezes a escola não tem lanche, e então providenciamos. Também precisamos de brindes, pois sempre premiamos os melhores trabalhos das oficinas.

Começamos, na Escola Estadual Djalma Aranha Marinho, onde estudam crianças e jovens do Planalto, Assentamento Leningrado e adjacências. Depois expandimos nossas ações para a Casa do Bem. Já atendemos mais de seis mil jovens. Voluntários, nós temos disponíveis, pois consigo persuadir a todos para o trabalho voluntário, mostrando sua importância para a sociedade. Mas a falta de material, de 2011 até hoje, tem nos feito restringir nossas ações para 150 alunos por semestre e com muitas dificuldades.

Por isso que a dessa quinta-feira (21) pode ter sido nossa última intervenção na Escola Estadual Djalma Aranha Marinho. Ainda pretendemos ir até à Casa do Bem, para fechar um trabalho construído por 10 anos, iniciado pelos alunos de Ciência da Religião e abraçado pelos de Direito e Turismo. Trabalho verdadeiro de cidadania, de amor e de caridade. Mas vou continuar lutando, na UERN, através de outros projetos de extensão e pesquisa, por uma sociedade em que crianças e jovens sejam protegidos de todos os tipos de violência e que tenham a garantia de direitos  fundamentais previstos  na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente.

(Estou chorando… Pois, o projeto é razão, mas as ações são movidas por emoções).

Profa. Dra. Maria Audenora das Neves Silva Martins

audenoraneves@oi.com.br

 

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