Foi quase uma hora de tentativas e estratégias para conseguir alcançar o objetivo maior do dia: fazer o peixe-boi Angelina voltar ao seu habitat. Após seis anos de cuidados intensos do Projeto Cetáceos da Costa Branca (PCCB) está pronta para viver os desafios de viver na natureza. Mas quem disse que Angelina queria?
A soltura do peixe-boi Angelina estava marcada para às 11h desta quarta-feira, 28, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão, em Macau. Uma equipe de profissionais especializados estavam preparados para conduzir a soltura. Angelina, por sua vez, não estava disposta a colaborar e protelou ao máximo sua saída. Depois de longos minutos de resistência, Angelina, como quase que em um ato de consciência, deixou o recinto de aclimatação, se aventurando em águas mais profundas.
Em março de 2018, Angelina, um filhote de peixe-boi debilitado, foi encontrada encalhada em Beberibe, no Ceará, pesando apenas 30 kg. Resgatada pela AQUASIS (ONG do Ceará), ela foi levada ao Centro de Reabilitação de Fauna Marinha do PCCB-UERN. Durante quatro anos, Angelina recebeu cuidados médicos, alimentação e monitoramento. Posteriormente, foi translocada para o Recinto de Aclimatação na Reserva de Ponta do Tubarão para adaptação ao ambiente natural.
Para o coordenador do PCCB, Flávio Lima, a soltura de Angelina é um marco muito grande, pois consolida o trabalho da Uern no cuidado e preservação do peixe-boi, desde o resgate até a soltura, passando pela reabilitação e a aclimatação.
Angelina é o quarto peixe-boi devolvido à natureza pelo PCCB-UERN, os outros três foram Gabriel, Rosa e Zé. Após a soltura, os animais são monitorados por transmissores para garantir sua segurança. A conservação dessa espécie é crucial, pois o peixe-boi-marinho desempenha um papel vital no controle da vegetação aquática e na qualidade da água.
“Dos três animais soltos, tivemos registros de animais que se movimentaram pelos estados de Alagoas, do Pará… Eles estão em ambiente natural. Não tivemos nenhum registro de intercorrência, de encalhe, de morte. O que a gente considera muito positivo, pois significa que estes animais se adaptaram ao ambiente marinho”, declara Flávio Lima.
Além da soltura em si, a atividade desta quarta-feira, 28, contou com uma programação variada com momentos de integração com a comunidade. O evento contou com premiação de concurso de fotografia, premiação amigos do peixe-boi, que reconheceu o trabalho de profissionais na preservação da espécie; apresentação cultural, exposição de ações do projeto cetáceos e de artesanato. Também foram realizadas palestras e mesas redondas sobre o trabalho do projeto.
Flávio Lima destaca que é uma satisfação muito grande contribuir com a conservação dessa espécie. “Essas solturas simbolizam não apenas o compromisso com a proteção dos peixes-bois, mas também o esforço de engajamento com a comunidade local para promover a consciência ambiental. A presença da comunidade e a realização de atividades culturais reforçam a mensagem de que a conservação é uma responsabilidade compartilhada”, frisa.
O Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia Potiguar (PMP-BP) é executado pelo PCCB-Uern, por meio de convênio firmado entre a Petrobras, Uern e Funcitern, em parceria com o Cemam, Idema e Aquasis. O projeto desempenha um papel vital na proteção de animais marinhos, focando no resgate, reabilitação, soltura e monitoramento. Essa iniciativa é crucial para cumprir as exigências do Ibama relacionadas à exploração de petróleo e gás na região.
Confira as fotos da programação e soltura neste link.