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Pesquisa faz mapeamento sobre atendimento de saúde a vítimas de violência doméstica em Mossoró

Durante a fase de isolamento social ocasionado pela Covid-19, os casos de violências contra a mulher cresceram 258,7% no Rio Grande do Norte, somente no ano de 2020, segundo dados da Rede e Instituto Óbvio de Pesquisa.

De acordo com o Atlas da violência de 2021, contudo, esses crimes não cresceram apenas no período pandêmico, mas desde 2009 tem registrado alta no estado. Ao mesmo tempo em que a violência doméstica aumenta, os profissionais da área da saúde apresentaram dificuldades em lidar com o acolhimento das mulheres vítimas dessa violência. É o que aponta um estudo feito pela Faculdade de Serviço Social da Uern, coordenado pela profª. Drª. Fernanda Marques.

O estudo “Serviço de Prevenção e Combate à violência contra a mulher em Mossoró na área de Saúde: Limites e possibilidades” foi uma pesquisa do PIBIC realizada no período de 2020 e 2021, que objetivou fazer um mapeamento analítico das unidades de saúde a nível municipal e estadual, em busca de entender que serviços existem para essa categoria e como os profissionais atuam nos atendimentos dessas mulheres em situação de violência doméstica.

Participaram da pesquisa quatro estudantes dos cursos de Serviço Social e Pedagogia da Uern. Os colaboradores realizaram entrevistas semiestruturadas com profissionais que trabalham nos serviços mapeados, bem como com questionários eletrônicos. No total, sete instituições participaram da pesquisa, sendo estas: Secretaria Municipal de Saúde de Mossoró, Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM), Unidades de Pronto atendimento (UPAs), Instituto Técnico-Científico de Perícia (ITEP), Unidade Básica de Saúde (UBS), Centro Clínico Professor Vingt-un Rosado (PAM) e o Centro de Referência para Atendimento de Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência Sexual (Projeto Flor de Lótus).

No dia 9 de julho, a pesquisa foi laureada pela Uern entre as três melhores de iniciação científica na área de Ciências Sociais aplicadas, o evento aconteceu no teatro Lauro Monte Filho. Essa premiação refere-se a um dos melhores trabalhos feitos na área de ciências sociais e que reflete a importância do estudo da temática para o combate ao aumento do número de vítimas dessas violências.

É comum que as pessoas compreendam a violência doméstica como uma violência física, mas ela se desdobra em muitos outros crimes: na violência psicológica, sexual, patrimonial, moral e institucional (quando a vítima é mal atendida e desacreditada em uma instituição onde procura ajuda).

Segundo Fernanda Marques, os profissionais das unidades mapeadas têm uma característica em comum: a ausência de uma escuta qualificada para atender as vítimas que chegavam aos consultórios.

“Existe uma dificuldade grande dos profissionais ao atenderem essas mulheres, falta capacitação. Se chegar uma mulher em situação de violência, vítima de um tiro ou uma lesão corporal, fora o atendimento geral que ela tem, ela precisa também de uma escuta qualificada, feita por um profissional que entenda que situação essa mulher está passando”, esclarece.

De acordo com a Coordenadoria de Estatísticas e Análise Criminal (Coine), só no Rio Grande do Norte houve um aumento de 44,3% nos casos de violência doméstica no 1° semestre de 2021 em comparação ao ano anterior. Esse dado explicita um crescimento do crime no estado.

Em Mossoró não há serviços de saúde de referência para o atendimento das vítimas de violência doméstica. Não à toa, o Atlas da Violência de 2021 mostrou que o Rio Grande do Norte foi um dos estados com maiores percentuais de violência contra a mulher, estando em 5º lugar entre os estados mais violentos para as mulheres em todo o país.

Para Fernanda, o serviço de saúde é uma das portas de entrada para as mulheres em situação de violência. “Além das delegacias, essas mulheres também chegam aos serviços de saúde mental e de emergência com adoecimentos, não só com lesões corporais, bem mais que isso. A violência é um problema de saúde pública, que tem que ser enfrentado e visto como tal”.

A pesquisa relatou que os profissionais enfrentam dificuldades em identificar a que órgãos devem notificar os crimes que chegam até eles, inclusive por desconhecerem quais serviços compõem a rede de proteção.

Esses profissionais também fizeram apontamentos. Um deles foi justamente a falta de preparo para atender as vítimas e que por isso acabam buscando por interesse próprio uma capacitação extra para lidar da melhor forma com essas mulheres.

Uern: Política de prevenção

Recentemente o Conselho Diretor da Fundação Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Fuern) aprovou a política de prevenção e enfrentamento das violências contra as mulheres no âmbito da Instituição. A ação é uma das formas de combate ao problema estrutural presente na sociedade.

Uma das ações a serem realizadas é a construção de um painel observatório para dar visibilidade à temática e a criação de uma rede estruturada de apoio e combate nos âmbitos do ensino, pesquisa e extensão.

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