Ao mesmo tempo em que afetou indústria, comércio e serviços nas grandes cidades, a pandemia do coronavírus também teve forte impacto negativo sobre o setor agrário, o qual arcou com entraves desde a etapa de produção de alimentos até o escoamento dos produtos.
Os diferentes impactos da pandemia sobre esse setor foram tema da pesquisa “A percepção de cooperados da Coafam, Mossoró, Nordeste do Brasil”, realizada pela professora Anne Katherine Bezerra Rosado e pela estudante Yara Cristina da Silva Varela, do Departamento de Gestão Ambiental da Uern Mossoró, junto a produtoras rurais membros da Cooperativa de Agricultura Familiar de Mossoró (Coafam).
Nos meses de março e abril de 2021, as pesquisadoras entrevistaram seis produtoras associadas à cooperativa com questões relacionadas aos temas emprego, gestão e renda; saúde e meio ambiente e políticas públicas.
“Diante dessas condições, queríamos analisar as dificuldades, os diversos impactos, a gestão dos recursos naturais nesse momento de crise”, explica Katherine.
As entrevistas foram feitas individualmente, em formato estruturado, com a aplicação de um questionário com 18 perguntas objetivas e 5 subjetivas.
“A pesquisa teve que ser realizada de forma virtual, por meio do Google Meet, mas mesmo assim a experiência foi ótima, contribuiu muito pra eu saber da vivência deles, seja da parte positiva ou negativa, além do encorajamento deles para continuar a trabalhar por melhorias”, relata Yara Varela.
O principal impacto da pandemia para os agricultores deu-se por conta da dificuldade de escoar os produtos, uma vez que a maior parte da produção era destinada à venda de polpa de frutas para escolas da rede básica, cujas atividades foram paralisadas.
Diante dos entraves, que resultaram em queda expressiva na renda, a maior parte dos produtores da cooperativa passou a utilizar recursos tecnológicos, como aplicativos, para escoar a produção.
A pesquisa também apontou que os agricultores adotaram diversas estratégias para enfrentar as perdas com a dificuldade de venda dos produtos, como a comercialização em feiras livres, a confecção de kits verdes de alimentação e a doação para instituições filantrópicas. “A pandemia foi um catalisador de diversas mudanças”, frisa Katherine.
O estudo constatou ainda a relação entre os produtores, dentro da cooperativa, que trabalha numa perspectiva de economia solidária, onde o ímpeto de cooperação fez com que fosse dada maior atenção às demandas das famílias dos agricultores.
“Eles fizeram vários rearranjos para ajudar as pessoas que passavam por alguma dificuldade, pra que ninguém perdesse o emprego”, ressalta a professora.
Para Yara, acompanhar os relatos dos produtores e os detalhes da produção trouxe ganhos além da simples realização da pesquisa. “Essa pesquisa foi muito relevante para a minha formação acadêmica, profissional e de cidadã. Conhecer de perto a bravura desses trabalhadores foi muito gratificante, além da compreensão do que eles enfrentam no dia a dia desde o cultivo da terra até o escoamento da produção”, relata a estudante.