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Desenvolvimento ambiental com e para a comunidade

O sol tinha acabado de nascer. Dezoito estudantes dos cursos de Gestão Ambiental, Turismo e Biologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), sob a coordenação do Prof. Dr. Wendson Medeiros e da Prof. Dr. Gabriela Cemirames de Sousa, chefe do Departamento de Gestão Ambiental, embarcaram em uma aventura de mais de 560 quilômetros pelo Seridó potiguar. Foram quase dois dias de viagem, passando por paisagens únicas de seis municípios da região. O objetivo da missão é conhecer a geodiversidade, as características geoambientais, fisiográficas e socioambientais do Geoparque Seridó Mundial da Unesco.

Reconhecido em 13 de abril de 2022 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como território de relevância nacional, o Seridó Geoparque Mundial abriga paisagens e formações geológicas únicas, que representam grande atrativo turístico e potencial de desenvolvimento econômico da região. Sua gestão combina a conservação com desenvolvimento sustentável, envolvendo as comunidades locais.

“O Geoparque é feito de pessoas para pessoas. Trabalhamos junto à comunidade, transformando a vida das pessoas que vivem na região”, explicou a Diretora Executiva do Consórcio Público Intermunicipal Geoparque Seridó, Janaina Luciana de Medeiros, durante visita de alunos da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern) à sede administrativa do Geoparque, em Currais Novos.

Com entusiasmo e inevitável emoção, Janaina Luciana relatou aos estudantes sobre as vidas transformadas pelo Geoparque. A gestão aplica uma abordagem de baixo para cima, envolvendo as pessoas das comunidades nas atividades turísticas e socioeconômicas. “A proposta do Geoparque é despertar nas comunidades dos municípios o sentimento de pertença e valorização, incentivando-os a transformar seus talentos em um meio de sustento e de crescimento econômico para a região”, disse.

 

 

O Geoparque é feito de pessoas para pessoas. Trabalhamos junto à comunidade, transformando a vida das pessoas que vivem na região.

Além da sede administrativa, os graduandos conheceram quatro dos 21 geossítios que compõem o Geoparque Seridó: Mina Brejuí, Mirante do Cruzeiro, em Currais Novos; Gargalheiras, em Acari, e Serra da Rajada, Carnaúba dos Dantas.

Conforme Wendson Medeiros, a aula de campo tem intuito de possibilitar aos alunos conhecer a geodiversidade, as características geoambientais, fisiográficas e socioambientais do Geoparque Seridó Mundial da Unesco, bem como identificar impactos ambientais de atividades instaladas e em processo de instalação, e do turismo em áreas naturais da região.

Os Geoparques são áreas geográficas únicas, onde os locais e paisagens de significado geológico internacional são gerenciados com um conceito holístico de proteção, educação e desenvolvimento sustentável. Em todo o mundo, são 170 geoparques reconhecidos pela Unesco. No Brasil, são apenas três: O Geoparque Araripe, no Ceará; o Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul, entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina; e o Geoparque Seridó, no Rio Grande do Norte.

O Consórcio Público intermunicipal Geoparque Seridó é formado por 21 geossítios, em uma área de 2,8 mil quilômetros quadrados, que integra seis municípios do Seridó norte-rio-grandense: Acari, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Currais Novos, Lagoa Nova, Parelhas.

A Uern faz parte do Comitê Científico, através da representação do professor Wendson Medeiros. O comitê é composto por 18 representantes de diferentes instituições, que tem como competência a emissão de pareceres relativos ao planejamento, desenvolvimento e avaliação das atividades científicas no território do Geoparque.

Para a estudante Hellen Pascally, do curso de Gestão Ambiental, a aula de campo é bastante enriquecedora, uma vez que é possível observar na prática todo o conteúdo teórico visto em sala de aula. “É muito importante essa experiência para mim enquanto estudante, e principalmente, para minha formação enquanto profissional”, declara.

GEOPARQUE

Os geoparques são territórios cuja finalidade é promover o desenvolvimento territorial sustentável a partir da geoconservação, tendo como principal estratégia o geoturismo. O seu reconhecimento pela Unesco os permite integrar a Rede Global de Geoparques Unesco, que tem por objetivo proporcionar o compartilhamento de experiências na gestão destes territórios.

GEOSSÍTIOS DO GEOPARQUE SERIDÓ

Cerro Corá
– Serra Verde
– Cruzeiro de Cerro Corá
– Nascente do Rio Potengi
– Vale Vulcânico

Lagoa Nova
– Mirante Santa Rita
– Tanque dos Poscianos

Currais Novos
– Lagoa do Santo
– Pico do Tororó
– Morro do Cruzeiro
– Mina Brejuí
– Cânion dos Apertados

Acari
– Açude Gargalheiras
– Poço do Arroz
– Cruzeiro de Acari
– Marmitas do Ria Carnaúba

Carnaúba dos Dantas
– Serra Rajada
– Monte do Galo
– Xiquexique
– Cachoeira dos Fundões

Parelhas
– Açude Boqueirão
– Mirador

Aula de campo envolve alunos dos cursos de Gestão Ambiental, Turismo e Biologia

VISITA AOS GEOSSÍTIOS

Durante a aula de campo, os graduandos conheceram de perto o funcionamento da Mina Brejuí, em Currais Novos. Com 75 quilômetros de galerias, e 12 níveis de extração, a mina é a principal responsável pela produção de scheelita (ou xelita) na América do Sul.

Acompanhados pelo engenheiro de minas Bruno Andrade, os alunos puderam acompanhar o ciclo da mineração, observar os aspectos e impactos da atividade mineira, bem como pensar medidas para atenuar os impactos ambientais da atividade econômica.

As atividades da Mina Brejuí tiveram início na década de 1940, e representou grande impacto no desenvolvimento econômico de Currais Novos e região. A mina tem como foco a extração de xelita. Minério responsável para obtenção do elemento tungstênio, material usado na fabricação de lâminas de turbinas para aviões e foguetes, em armamentos militares, em válvulas de mísseis e aeronaves, por exemplo. A exploração da xelita resultou em grande riqueza para região. E rendeu ao seu fundador, Tomaz Salustino Gomes de Melo, o título de quarto homem mais rico, pela revista Forbes.

Com o declínio do preço da commodity, houve redução da produção e eventual fechamento da mina na década de 1990. Nos anos 2000, a Mina Brejuí retomou as atividades. Além da atividade mineira, foi estabelecido pela empresa um parque temático, englobando Museu Mineral, Memorial ao fundador da mina e visitação às galerias de exploração desativadas.

Outro ponto visitado pelos estudantes foi o Geossítio Mirante Morro do Cruzeiro. O professor Wendson Medeiros informa que o cruzeiro é também conhecido como pedra de navio, e representa um importante monumento para o turismo religioso da região, acrescentando valor cultural ao seu valor geológico, mineralógico e geomorfológico.

Os estudantes passaram ainda pelo Geossítio Açude Gargalheiras, em Acari, que é considerado um dos pontos mais bonitos do Estado, tendo sido eleito pelo voto popular como a terceira maravilha do RN. Recentemente, por meio da Lei nº 11.365/2023, sancionada pela governadora Fátima Bezerra, o Açude Gargalheiras tornou-se patrimônio cultural, histórico, geográfico, paisagístico, ambiental e turístico do Rio Grande do Norte. Além do Gargalheiras, também foi visitado o Geossítio Serra da Rajada, no município de Carnaúba dos Dantas. Para o estudante do curso de Biologia, Heinz Teixeira, a aula de campo possibilita avaliar as questões ambientais através da interdisciplinaridade. “Podemos observar os impactos ambientais, turísticos e sociais de várias localidades por onde passamos. Isso é muito importante para apurarmos nosso olhar para essas questões, além de nos incentivar a propor soluções”, declara.

O estudante Hudson Paiva, do curso de Turismo, ressaltou que essa é uma experiência marcante. “Aqui pudemos ter o contato com o ambiente, ver os impactos da atividade turística sobre o meio ambiente. E isso é de extrema importância, pois a gente consegue associar vários aspectos da questão ambiental”

Estudantes avaliam impacto ambiental nas eólicas

IMPACTOS AMBIENTAIS

A aula de campo contou ainda com visita aos parques eólicos, na cidade de Lagoa Nova, a quase 700 metros de altitude; ao Canteiro de obras da Cidade da Moda, em Acari; à atividade ceramista, em Carnaúba dos Dantas, à Ilha de Santana, em Caicó; e à comunidade de Nova Barra de Santana, na área da Barragem de Oiticica, em Jucurutu.

De acordo com Wendson Medeiros, a aula de campo possibilitou aos estudantes conhecer aspectos ambientais de diversas atividades instaladas no roteiro (mineração, energia eólica e solar, (geo)turismo, barragens, cerâmica, agropecuária e urbana), conhecer o território de um geoparque mundial da Unesco e sua geodiversidade, bem como observar, identificar e caracterizar diversos impactos ambientais de magnitudes e escalas diversas, decorrentes de atividades e intervenções recentes no território, sempre articulando conhecimentos teóricos e práticos com foco na formação e atuação profissional interdisciplinar dos estudantes, futuros gestores ambientais, biólogos e turismólogos.

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