O sonho de ser mãe, nem sempre, é alcançado com facilidade, já que diversos fatores podem dificultar uma gestação. No entanto, com o avanço da medicina e das técnicas para aumento da fertilidade, é possível, sim, fazer acontecer. Exemplo disso é o trabalho realizado pelo Ambulatório de Reprodução Humana do Hospital da Mulher Parteira Maria Correia (HMPMC), em Mossoró.
Desde sua criação, em março de 2023, mais de 1.200 atendimentos já foram realizados, entre consultas, investigação de fertilidade, planejamento familiar, pré-natal, dentre outros. Esse é o primeiro serviço de Reprodução Humana mantido pelo Estado do Rio Grande do Norte, através da Sesap, e que oferece atendimento via Sistema Único de Saúde (SUS), atendendo pacientes de Mossoró e de toda a Região Oeste potiguar.
“A infertilidade é um problema de saúde pública, segundo a própria Organização Mundial da Saúde. Então a gente precisa falar cada vez mais dessa doença com o objetivo de quebrar tabus e oferecer a esses casais o diagnóstico e o tratamento”, disse a médica obstetra Dra. Lícia Maria Alves, coordenadora do ambulatório.
Os pacientes recebem atendimento de uma equipe múltipla, composta por médicos, psicólogos, nutricionistas e também por estudantes de medicina e residentes de ginecologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) e da Faculdade de Enfermagem e de Medicina Nova Esperança (Facene). Sendo assim, o ambulatório também desempenha papel importante para a formação de novos profissionais. “É uma forma de educar esses alunos para que, daqui a pouco, eles possam estar nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) sabendo identificar esses fatores de infertilidade, sabendo quando e como encaminhar, que exames devem ser solicitados”, destacou Dra. Lícia.
Para ter acesso aos serviços do ambulatório, é preciso encaminhamento médico das unidades de atenção primária à saúde para um especialista. No caso daqueles que não residem em Mossoró, após a primeira consulta, a secretaria municipal do município de residência da paciente solicitará ao Núcleo de Regulação o atendimento no ambulatório.
Atendimento humanizado
Os serviços oferecidos a esses pacientes vão além da missão profissional. É uma participação significativa nos sonhos de muitos casais. Segundo Dra. Lícia, cerca de cinco bebês já vieram ao mundo a partir da assistência prestada pelo ambulatório. “A gente contribui de uma forma social para essas pessoas encararem a infertilidade de uma forma mais leve. A gente se compromete em acessibilizar cada vez mais os diagnósticos de infertilidade, pois é importante os casais saberem por que não conseguem engravidar. Então o objetivo é acessibilizar o diagnóstico e oferecer tratamentos de reprodução humana assistida”, afirmou, destacando que, muitas vezes, por falta de um diagnóstico preciso, as pacientes passam muitos anos na tentativa de uma gravidez, a qual não se efetiva.
Era o caso da auxiliar de serviços gerais, Francione Nunes (da foto em destaque). Ela tinha obstrução tubária, isto é, as trompas estavam obstruídas, impedindo a passagem do óvulo e do espermatozóide, além de um quadro de endometriose. Havia 15 anos que ela tentava engravidar. “Os médicos sempre me diziam que, para eu engravidar, teria que fazer uma cirurgia na trompa obstruída. Mas depois acabei sendo encaminhada ao Hospital da Mulher. Lá fiz exames e iniciei um tratamento. Antes mesmo de terminar esse tratamento, acabei engravidando, e hoje meu filho está com seis meses de vida”, disse ela, acrescentando que teve uma gravidez tranquila e saudável.
Assim como Francione, outras pacientes já tiveram suas vidas transformadas a partir do atendimento oferecido na unidade. “Eu dou força às minhas amigas e a outras mulheres também para buscarem o Hospital da Mulher, porque lá temos muita assistência, com uma equipe muito especial que trabalha na nossa causa por amor. Só tenho a agradecer a todos”, disse.
Expectativa é de que ambulatório possa oferecer Fertilização In Vitro no futuro
A Fertilização In Vitro (FIV) é uma técnica de reprodução assistida que consiste em fertilizar um óvulo com um espermatozoide em laboratório, formando um embrião que, posteriormente, é transferido para o útero da mulher. É um processo de alta complexidade que auxilia casais com dificuldades para engravidar naturalmente.
Atualmente, em todo o país, o Sistema Único de Saúde oferece a FIV em cerca de 10 unidades hospitalares, sendo que a maioria delas está localizada na região Sudeste. No Rio Grande do Norte, apenas a Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), dispõe desse serviço através do SUS, sendo referência na região Norte e Nordeste para este tipo de tratamento.
No entanto, como afirma Dra. Lícia, ainda há certa burocracia para que pacientes do interior do Estado sejam encaminhados para a unidade. “A nossa região Oeste não consegue encaminhar esses pacientes para lá devido à parte burocrática de pactuação dos municípios. Ou seja, infelizmente, no nosso Estado, nem todos os pacientes têm acesso a esse serviço”, e ressaltou que “até o momento, o que a gente realiza aqui no Hospital da Mulher são ajustes metabólicos, orientações, diagnóstico, e fazemos indução de ovulação para o namoro programado”.
A previsão é de que, em um futuro próximo, a técnica FIV possa ser realizada também em Mossoró, no Hospital da Mulher. “A gente espera ter a possibilidade de fazer as inseminações, mas para isso precisamos ainda capacitar mais profissionais médicos, biomédicos, biologistas, farmacêuticos, para que a gente consiga fazer esse serviço funcionar aqui”, finalizou Dra. Lícia Maria.