Na área de espera do Hemocentro de Mossoró, Letícia Rodrigues aproveitava as conversas e brincadeiras com os colegas de faculdade para distrair-se da ansiedade em relação à sua primeira doação de sangue. Aluna do sétimo período do Curso de Medicina da Uern, ela estava entre os 19 estudantes do curso que participaram, na manhã desta terça-feira, de uma ação promovida pelo Grupo de Apoio aos Portadores de Hemofilia (Gaph), da Faculdade de Ciências da Saúde, a qual buscou estimular o ato solidário entre os discentes e proporcionar experiências relevantes para seu aprendizado profissional.
“Minha intenção de doar sangue começou durante uma aula prática sobre tipagem sanguínea, em que eu descobri ser do tipo O negativo, o famoso ‘doador universal’. A partir desse momento, fui muito incentivada pelos amigos a fazer a doação de sangue, mas eu tinha um leve receio quanto à dor, então acabava sempre adiando”, relatou a estudante.
A decisão de finalmente dar o passo necessário para a doação logo foi recompensada pela satisfação e alegria por se sentir contribuindo para a saúde de outras pessoas. “A doação durou cerca de dez minutos e posso dizer que perdi completamente o medo, porque foi quase indolor. Estou super satisfeita e pretendo fazer várias doações daqui para frente. A gente sabe da importância e do impacto que esse gesto tem na vida de diversas pessoas”, destacou.
Mesmo entre os estudantes que já haviam doado sangue anteriormente, o sentimento de contentamento foi marcante. Pela segunda vez participando de uma ação do tipo, o aluno Pedro Ícaro de Almeida, do segundo período, também manifestou o entusiasmo ao sair da sala de coleta.
Na primeira vez em que doou sangue, contou, participou de uma campanha para ajudar um professor do cursinho em que estava matriculado. Desta vez, comentou, o fato de não saber quem seria a pessoa beneficiada pela doação não diminuiu a vontade de fazer uma nova doação.
Ao mesmo tempo em que a divulgação feita pelo Gaph foi fundamental para convocar os estudantes a participar do ato, a influência de familiares e amigos e até as notícias sobre a situação do estoque de sangue no hemocentro também influenciaram a decisão dos discentes.
Preparando-se para participar pela primeira vez de uma doação, o calouro Igor Lima, de 17 anos, foi motivado, além dos colegas, pelo exemplo que observou na própria casa. A mãe de Igor, Érika Lima, já doou sangue diversas vezes e fez questão de assistir à primeira doação do filho. “Eu sei da importância da doação. E isso é algo presente na nossa família”, comentou a mãe de Igor, que também já realizou o cadastro como doadora de órgãos.
Experiência pessoal
A influência da família para a doação de sangue também foi significativa para outros estudantes que compareceram à ação do Gaph, ainda que de uma forma distinta. Membro do grupo e uma das organizadoras da iniciativa desta terça-feira, Paloma Barreto recorda do momento, oito anos atrás, em que sua família precisou fazer uma campanha para arrecadar sangue para sua mãe, que teve de fazer uma cirurgia de emergência por conta de um meningioma (espécie de tumor que atinge as meninges).
“Aquilo foi um episódio que me marcou muito. Eu não pude doar e também não participei tanto desse processo porque era muito nova, tinha 16 anos. Só estava preocupada em não perder minha mãe. Mas tudo isso me marcou muito e me fez ter atenção com essas questões”, contou a aluna.
Outra estudante que passou por situação semelhante na família, a caloura Marina Mota relembrou um episódio em que um tio-avô precisou de doações de sangue com urgência e a família se mobilizou para ajudá-lo. “Mas muitas vezes, quando não é algo de emergência, é mais difícil convocar as pessoas. O interesse é menor”, ponderou a aluna.
Para Marina, a participação na ação promovida pelo grupo representa também uma oportunidade para os discentes de ampliar o conhecimento relacionado a temas como a doação e as doenças relacionadas ao sangue.
“Os estudantes já têm no quinto período uma disciplina sobre doenças hematológicas, mas esse contato de agora é importante para eles conhecerem esse espaço, já terem uma noção de como são feitos os procedimentos, quais são os critérios para doar, além de outras questões”, ilustrou a professora Allyssandra Rodrigues, coordenadora do Gaph.
A professora também ressaltou a importância da atuação grupo, que completa seis anos de atuação em 2024, no apoio a pacientes com doenças hematológicas de Mossoró e diversas outras cidades da região, além da promoção de iniciativas como o incentivo à doação de sangue nesta semana.
Com encontros aos sábados, o grupo promove uma série de ações voltadas não apenas aos pacientes, mas também aos familiares, que recebem informações e orientações sobre os cuidados necessários.
As ações do grupo podem ser acompanhadas em seu perfil no Instagram. Até o dia 11, o Gaph recebe inscrições de novos membros, que podem ser estudantes da Uern, Ufersa e Facene.
A iniciativa desta terça-feira se integra às ações da Campanha Uern Sangue Bom, promovida pela Universidade com o objetivo de promover a doação de sangue entre a comunidade acadêmica e o público externo.