Aprovado no edital FIC 2024 – Identificação de Referências Culturais (mapeamento/inventários), da Prefeitura Municipal de Natal, o projeto “Inventário das Referências Culturais da Celebração de Nossa Senhora dos Navegantes da Comunidade da Redinha” está iniciando processo de documentação da festa religiosa e de suas manifestações populares.
A iniciativa está vinculada ao projeto de extensão “Memória Religiosa da Cidade do Natal”, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), que desde 2016 atua em ações de educação patrimonial e na valorização das expressões religiosas e culturais da cidade.
O inventário parte da constatação de que a festa concentra práticas e significados simbólicos de forte relevância social, espiritual e histórica para os moradores locais, do entorno, veranistas e frequentadores da praia. A proposta é construir um inventário cultural que reconheça essas manifestações e seus vínculos com expressões de pertencimento, fé, resistência e ancestralidade.
Coordenado pela professora Irene van den Berg, o projeto envolve estudantes, pesquisadores, lideranças religiosas e comunidade em geral na coleta de dados e na escuta sensível das memórias e rituais associados à festa, às celebrações religiosas e ao uso simbólico da paisagem. Entre os temas abordados estão as festas em honra à padroeira, os elementos da arquitetura religiosa e popular, a narrativas locais e o modo como a fé se expressa nas práticas cotidianas do bairro.
A celebração é marcada por cortejos marítimos e terrestres, missas e rituais que movimentam o bairro durante todo o mês de janeiro. O ponto alto da festa ocorre no encontro das duas imagens da santa: uma conduzida por terra, em carreata, e outra vinda pelo mar, transportada por pescadores da região. A organização comunitária da festa começa ainda em setembro, com a divisão de tarefas entre moradores.
O inventário envolve trabalho etnográfico de campo, entrevistas, registros audiovisuais e mobilização social, valorizando os saberes locais. Dois dos integrantes da equipe são moradores da Redinha, o que contribui para uma maior articulação com a comunidade. “A participação direta das pessoas da comunidade é central no processo, não apenas como fonte de informações, mas como agentes na preservação e difusão de sua própria memória cultural”, afirma a coordenadora.
O projeto prevê ainda todo o registro documental cadastrado na plataforma digital INRC, do IPHAN, o que permite que seu conteúdo seja utilizado por diversos atores, como o governo, a sociedade civil, a comunidade científica e os agentes culturais, para desenvolver projetos de preservação, valorização e promoção do patrimônio cultural.
Conforme registra a professora Irene van den Berg, ”o processo de inventário poderá servir também como documentação para o processo de registro da Festa de Nossa dos Navegantes como Patrimônio Imaterial Brasileiro pelo IPHAN, assim como a Festa de Santana de Caicó”.
Ao fim do processo, será produzida uma cartilha em formato físico e digital, com os resultados do inventário, e promovido um seminário comunitário para a socialização do material. A ação também prevê recursos de acessibilidade comunicacional e arquitetônica, como o uso de tecnologias assistivas e a escolha de espaços adequados para eventos públicos.
Além de contribuir para a valorização da memória religiosa da cidade, o projeto atua na preservação de referências culturais ameaçadas pela urbanização acelerada e pela invisibilização de tradições populares. A metodologia adotada articula pesquisa de campo, registros fotográficos, entrevistas e produção de materiais educativos e de divulgação cultural.
A ação integra os esforços da Uern para fortalecer o diálogo entre universidade e comunidade, com foco em projetos de extensão que promovem a cidadania cultural e o reconhecimento da diversidade religiosa como patrimônio imaterial.