Para muitos brasileiros, um cafezinho logo cedo é fundamental para iniciar bem o dia, e com ovos mexidos para acompanhar, fica perfeito. O problema é quando chegamos ao supermercado e percebemos que esses itens, tão básicos no nosso dia a dia, estão com o preço maior que o costume. É o que tem acontecido nas últimas semanas.
De acordo com o economista e professor da Uern, Emanoel Márcio, a tendência é que nos próximos meses o valor do café, por exemplo, aumente ainda mais. “Os preços do café nos supermercados brasileiros (varejo) já têm acumulado um aumento significativo alcançando 110% nos últimos quatro anos, conforme aponta a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), e a expectativa é da realização de novos reajustes nos próximos meses de 2025”, disse.
Segundo o economista, existem três principais motivos para essa alta no preço do café. O primeiro deles é o fator climático. Desde o ano de 2021, períodos sucessivos de seca nas regiões produtoras brasileiras têm reduzido a quantidade produzida do café, fazendo o preço subir baseado nas forças da demanda e da oferta. A alta do dólar também tem impactado diretamente, já que a valorização da moeda americana permite que os produtores tenham mais lucro com exportações, reduzindo ainda mais a oferta interna e forçando a subida dos preços para o mercado brasileiro. Por fim, a decisão da China em estruturar cafeterias por várias regiões do país gerou uma expectativa significativa na demanda global, o que aumenta a tendência de encarecimento do produto nos países produtores.
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Para quem aprecia um café pela manhã, à tarde e até mesmo à noite, não está sendo fácil comprar. É o caso da auxiliar de serviços gerais, dona Janice Souza. “Eu estou achando muito caro, demais mesmo. É tanto que eu sempre levava dois, três pacotinhos, e hoje vou levando só um”, comentou. Apesar disso, ela não pensa em abrir mão do cafezinho. “Deus me livre, deixo nada. Quando eu puder comprar três, compro três. Quando não puder, compro só um, mas não paro de tomar”, disse.
Fatores climáticos e aumento do consumo durante a quaresma elevam o preço do ovo
Item indispensável na cesta básica e ingrediente comum em tantas receitas, o ovo também teve significativos aumentos em seu preço.
De acordo com o Instituto Ovos Brasil (IOB), assim como acontece com o café, combinações a partir de três causas principais são apontadas para a elevação do preço dos ovos. A primeira delas é também a questão climática, uma vez que a incidência do forte calor gerado pelas altas temperaturas registradas no início de 2025 afetou a produtividade das aves, levando à redução na produção de ovos e impactando diretamente a oferta. Outro fator a ser considerado é a elevação do preço do milho, que fez disparar os custos de produção e, portanto, fazendo com que os produtores de ovos aumentassem o preço, o que é repassado para o consumidor na prateleira dos supermercados.
Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a alta registrada no preço dos ovos acontece, também, devido ao período pré e durante a quaresma. A comercialização de ovos aqueceu pela demanda natural da época, quando há substituição de consumo de carnes vermelhas por proteínas brancas e por ovos.
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Seu Vivaldo Gurgel, aposentado, sentiu no bolso esse aumento. “Está caro demais. No rojão que vai, acho que daqui a uns dois meses não vou poder comer nem ovo. Quem ganha um salário mínimo não vai ter como”, comentou. Segundo o economista, é inevitável o impacto da elevação tão brusca do café e do ovo na vida dos brasileiros. “Esses dois produtos há muito tempo fazem parte da cesta de bens das famílias, além de significarem iguarias de uma cultura no que diz respeito ao hábito alimentar nacional. E os impactos vêm especialmente no sentido das famílias serem forçadas a reduzir as quantidades compradas nos supermercados”, disse Emanoel Márcio.
Considerando a tendência do mercado, o economista acredita que essa realidade vai durar por mais um tempo. “Os preços do café sinalizam para uma manutenção de alta durante todo o ano de 2025, afirmando as consequências geradas pelo dólar alto e pela sinalização de consumo da China. E os preços do ovo devem continuar elevados pelo menos até o final da quaresma, especialmente se continuarem as altas temperaturas que reduzem a produção das aves e os custos de produção por comprar milho caro”.
E para driblar a situação, a dica é mesmo diminuir o consumo. “Em período de inflação de alimentos é muito difícil minimizar o impacto na vida das famílias. Isso requer um planejamento cuidadoso e a adoção de boas estratégias. E quando se trata do cafezinho e do ovo, o que infelizmente se tem como sinalização é o aperto do cinto a partir da redução do consumo, voltando a sua ampliação quando os preços caírem para patamares mais acessíveis”, concluiu Emanoel Márcio.