Um legado que transcende a presença física. O Rio Grande do Norte se despede nesta segunda-feira, 27 de novembro, do Padre Sátiro Cavalcanti Dantas, sacerdote de fé inabalável e grande defensor da educação.
Referência de humanidade, sensibilidade e inteligência, Pe. Sátiro Cavalcanti Dantas idealizou e concretizou projetos coletivos que beneficiaram milhares de pessoas.
Em sinal de profundo pesar, a bandeira da Uern está a meio mastro e a reitora Cicília Maia decretou luto oficial de três dias, com suspensão das atividades acadêmicas e administrativas nesta segunda, 27 de novembro, e na terça-feira, 28 de novembro. Dessa forma, toda a comunidade poderá prestar suas homenagens a Pe. Sátiro Cavalcanti Dantas.
O ilustre pauferrense, nascido em 22 de janeiro de 1930, na comunidade de Poço de Pedra, município de Pau dos Ferros, filho do seu João Fernandes Dantas e de Dona Erondina Cavalcanti Dantas, tornou-se um dos principais sacerdotes do Estado.
Entre suas obras se destacam: a Fundação Socioeducativa do RN (Funsern), Mosteiro de Santa Clara e FM 105, instaladas numa das áreas mais periféricas de Mossoró; direção do Colégio Diocesano de Santa Luzia por 60 anos, sendo diretor emérito; participação fundamental na criação da Faculdade Católica do RN; e sua gestão à frente da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, sendo o reitor que liderou a luta pela estadualização da Universidade em 1987.
Um dos pilares humanos da Uern e do Estado do Rio Grande do Norte, sempre foi presença firme e atuante em defesa da Universidade, ajudando em outras conquistas como o reconhecimento, autonomia financeira e conquista dos Planos de Cargos, Carreiras e Remunerações.
Que sua memória e seu olhar para o bem coletivo continuem a nos inspirar a seguir seus passos, a sermos agentes de mudança e a espalhar o amor e a compaixão entre os mais necessitados. Que sua energia, força e criatividade sejam exemplo vivo de sua obra.
Velório
O velório de Padre Sátiro será nesta segunda-feira, a partir das 16h, no Ginásio do Colégio Diocesano Santa Luzia (Carecão). Logo mais às 20h, terá a primeira missa de corpo presente.
Na terça-feira, 28, a partir das 6h, terá o translado do corpo, que sairá do Colégio Diocesano até o Santuário Santa Clara, no conjunto Dom Jaime Câmara. Às 9h, terá a segunda missa.
Logo após, às 11h, terá o translado do Santuário Santa Clara até a Catedral de Santa Luzia. O cortejo também passará pela Reitoria da Uern, às 11h20. Às 15h30, terá a missa das exéquias na Catedral, em seguida o sepultamento na Capela de São Sebastião no Cemitério Central.
O Reitor da Estadualização
Padre Sátiro será sempre lembrado como líder da estadualização da Uern. Ele esteve à frente da reitoria entre 5 de agosto de 1985 e 8 de janeiro 1987. Assumiu a então Fundação Universidade Regional do Rio Grande do Norte (FURRN), uma instituição municipal que era pública, mas que cobrava mensalidades dos estudantes. A missão dele era clara: encontrar uma solução para a FURRN.
O reitor dedicou boa parte de sua agenda no primeiro semestre de 1986 a Brasília onde participou de uma série de reuniões e contou com o apoio do então ministro da administração Aluízio Alves. Ele discutiu o reconhecimento de cursos e ao mesmo tempo defendia a federalização da instituição.
Pe. Sátiro tentou contatos com o então ministro da educação Marco Maciel. Chegou-se a se discutir a possibilidade de a FURRN ser anexada a antiga ESAM, atual Ufersa, mas a ideia não avançou. A anexação pela UFRN também foi uma das alternativas discutidas na época.
O destino da FURRN era ser UERN e o de Padre Sátiro era liderar o processo como reitor. Com a ajuda dos técnicos, alunos e professores, ele lotou 10 ônibus e foi bater à porta do então governador Radir Pereira após a histórica assembleia do Cine Pax do dia 8 de junho, que decidiu que era hora de focar na estadualização.
Em setembro a Câmara Municipal de Mossoró já tinha autorizado e o então prefeito Dix-huit Rosado assinado a lei autorizando a estadualização. Em novembro de 1986 a Assembleia Legislativa já tinha aprovado a estadualização e a FURRN já tinha sido incorporada ao patrimônio do Governo do Rio Grande do Norte.
A estadualização foi oficializada em 7 de janeiro de 1987. No dia 8 de janeiro, Padre Sátiro cumpriu a promessa de que a missão dele como reitor era resolver o maior problema da universidade que agora era além de pública, finalmente gratuita e poderia se manter.
Ele renunciou ao cargo voluntariamente dando lugar a Antônio Capistrano.
A prática da fé
A sua vocação religiosa foi despertada aos 14 anos de idade. Em fevereiro de 1943, chegou a Mossoró para estudar no Seminário. Em Roma, ele foi ordenado sacerdote em 8 de dezembro de 1954, por ocasião dos 100 anos do Dogma da Imaculada Conceição, pelo arcebispo de Puebla, México, que reuniu nesta celebração todos os ordenados da América Latina.
Sua primeira missa foi no dia 8 de dezembro de 1955, na igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Pau dos Ferros, berço de sua família e de sua vocação religiosa. Para além dos sermões nas celebrações religiosas, Padre Sátiro sempre defendeu a educação como agente transformador do ser humano.
Memória a Padre Sátiro
“Perdemos hoje um grande ser humano que nos ensinou muito e vai continuar ensinando com seu exemplo, sua trajetória, energia, entusiasmo, coragem e conhecimento. Ele nos ensinou que vale a pena acreditar na educação e lutar por ela. Base importante na história da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e na luta para que ela fosse fortalecida, Padre Sátiro deixa para todos nós a lição do amor pela vida e por uma educação justa e igualitária para todas as pessoas. Meus sentimentos à toda família e aos amigos que ele cultivou na igreja, no mosteiro, na Funsern e em toda a sociedade. Gratidão, Padre Sátiro por tanta dedicação à educação, à igreja, à nossa Uern e a todos que buscavam uma palavra amiga ou um conselho. Deus o acolha em sua nova morada”, Cicília Maia, reitora da Uern.
“Padre Sátiro fez da sua vida uma devoção à causa da educação; não somente a formal, que titulariza pessoas e as envaidece. O legado dele é na educação como força de transformação social. A educação como elemento do trabalho, da ocupação funcional. O seu legado se viu também no campo da educação para a cidadania, para a solidariedade, para o serviço e seguimento a Deus. Seu maior magistério foi em função do amor, para a caridade… Teve uma vida consagrada ao Deus que vive no homem, horizontalizado, com pés no chão e olhar fixo no céu”, Marcos Araújo, advogado e professor da Uern.
“Padre Sátiro é um homem que marca a geração de muitos norte-rio-grandenses. É um homem que tem inúmeros serviços prestados de forma longínqua da história de nossa cidade, do nosso povo, de modo especial no serviço à educação. Aprendi de Padre Sátiro muitas coisas. E uma das maiores lições que ele deixou, foi que não fazemos nada sozinhos”, Padre Charles Lamartine, diretor do Colégio Diocesano Santa Luzia.
“Padre Sátiro foi uma das pessoas mais importantes da educação no Estado do Rio Grande do Norte. Professor e dirigente de instituições de ensino, teve presença marcante na vida do Município de Mossoró, como sacerdote e como professor, com mais de quarenta anos de sua vida dedicados ao magistério e cinquenta e cinco anos como diretor do Colégio Diocesano Santa Luzia. Sátiro era uma figura humana extraordinária e dedicado à causa do ensino público, foi ele, praticamente, o responsável pelo reconhecimento da URRN (Atual UERN) como universidade pelo Conselho Federal de Educação. Ao assumir a reitoria da URRN, o professor Sátiro Dantas encontrou a universidade em uma de suas piores crises, e conseguiu unir todas as forças do Estado em torno da causa da URRN, visando colocar a universidade em um rumo seguro, no que obteve pleno êxito. Falar em Padre Sátiro é falar na valorização da educação, é falar na democratização do acesso ao ensino público, é falar em preocupação com os pobres. Tive o privilégio de ser seu amigo, e compor com ele a direção da URRN, como Vice-Reitor na época em que ele ocupou o cargo de Reitor. Padre Sátiro deixa, inapagável, o seu nome no rol dos maiores educadores do Rio Grande do Norte”, Antônio Capistrano, ex-reitor da Uern.