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COMPLEXO CULTURAL DE NATAL RECEBE PROJETO ‘CINEMA NOS BAIRROS’, COM MOSTRA

Todas as quartas-feiras, até 20 de junho, o Complexo Cultural de Natal abrirá seu teatro para o projeto Cinema nos Bairros, com a mostra “América Latina no Cinema”. A sessão começa sempre às 18h30. No mesmo horário, em outra sala do CCN, será exibido um filme infantil. Todas as sessões são abertas ao público, com entrada gratuita.

O Projeto Cinema nos Bairros é uma realização do Departamento de Ciências Sociais, História e Línguas e Literaturas Estrangeiras Modernas (UFRN), com o apoio do Sindicato dos Bancários, PROEX (UFRN), CCSA (UFRN), Cineclubenatal e DHNET.

Confira a programação de filmes do projeto:

11/04 – A história oficial (Título original: La historia oficial) – Argentina – 1985

24/04 – Guantanamera – Cuba – 1995

09/05 – Gigante – Uruguai – 2009

16/05 – Machuca – Chile – 2004

23/05 – Estômago – Brasil – 2007

30/05 – A que distância (Título original: Que tan lejos)- Equador – 2006

06/06 – A cidade e os cachorros (Título original: La ciudad y lós perros) – Peru – 1985

13/06 – Nove Rainhas (Título original: Nueve reinas) – Argentina – 2000

20/06 – Clube da lua (Título original: Luna de avellaneda) – Argentina – 2004

 

PRIMEIRA PRODUÇÃO ARGENTINA A VENCER OSCAR DE MELHOR FILME ESTRANGEIRO É PELÍCULA EM CARTAZ NA PRÓXIMA QUARTA (11)

 

A História Oficial (Título original: La Historia Oficial), de 1985, dirigido por Luiz Puenzo, foi lançado num período delicado da história da Argentina, recém-saída de uma das mais brutais ditaduras militares do continente, e trata de um dos mais tristes legados daquele período: os desaparecidos e seus filhos. Porém, o filme se concentra mais no lado humano daquela tragédia do que nas causas econômico-ideológicas que permitiram que tudo ocorresse.

Aparentemente situado no período final da Guerra das Malvinas (portanto, quando a ditadura de Videla já dava seus últimos suspiros), o filme conta a história de Alícia, uma professora de História de meia-idade que, impossibilitada de ter filhos, dedica-se a criar Gaby, uma menina que seu marido Roberto trouxe para casa há alguns anos. Quando sua amiga Ana volta ao país depois de vários anos fora e lhe conta que foi torturada e expulsa do país, Alícia passa a desconfiar que Gaby seja filha de “subversivos” políticos mortos durante a fase mais dura do regime (com o qual ela própria é conivente). Ela passa a buscar sozinha as verdadeiras origens da menina, esbarrando na má vontade de Roberto, que procura dissuadi-la.

A maior virtude de A História Oficial é não colocar um ponto final na busca de Alícia: todos sabem que descobrir, de fato, as origens de pessoas cujos pais, segundo os militares, nunca existiram, é um feito praticamente impossível. Não é à toa que mesmo hoje, mais de 25 anos depois do fim da ditadura, as Mães da Praça de Maio continuam a fazer manifestações semanais em Buenos Aires, mantendo sempre viva na memória do povo argentino (e do mundo) a violência que sofreram (as Mães aparecem em duas cenas do filme e recebem um agradecimento especial nos créditos finais). Alícia, infelizmente, viverá para sempre com a dúvida em sua mente. Ao optar pela regra (e não pela exceção, como um filme hollywoodiano provavelmente faria), A História Oficial ganha ainda mais força.

Outro grande ponto forte do filme é a qualidade de suas atuações: Chela Ruíz, em poucas cenas, comove pelo peso de perdas sem explicação, e surpreende pela visão pragmática que se obrigou a assumir (“Chorar não resolve”). Analia Castro, como a pequena Gaby, destaca-se numa cena cujo simbolismo é óbvio, mas eficiente (quando garotos invadem seu quarto enquanto ela brinca sozinha). Hector Alterio, como Roberto, vai gradualmente mostrando-se ao longo da projeção, sempre ganhando facetas mais desprezíveis. Mas quam carrega o filme de verdade é Norma Aleandro, cujo choque diante da realidade “que acontece diante de seu nariz e não percebe” (uma expressão usada duas vezes no filme – por lados diferentes da discussão!) é convincente e até mesmo inevitável. Essa sua postura diante de tudo, vale dizer, é mostrada também pela mudança de seu penteado: se inicialmente ela aparecia rígida e fria com um coque apertadíssimo, sua busca pela verdade acontece sempre com os cabelos soltos.

Mesmo assim, A História Oficial não deixa de ter seus problemas: a subtrama entre Alícia e um aluno mais rebelde, que poderia gerar boas cenas, é abandonada pelo caminho. Da mesma forma, o diretor Luis Puenzo filma a conversa entre Alícia e Ana com enquadramentos tão fechados que quase sugerem que as duas tiveram uma relação lésbica no passado (não que seja um problema, mas não acrescenta nada à história). Finalmente, não deixa de ser decepcionante que o filme evite pisar muito no campo político e econômico da época, já que a ditadura foi um pretexto para levar a cabo medidas que desembocariam na terrível crise que a Argentina enfrentou no início da década (o assunto só é levantado em uma cena – não por acaso, a melhor do filme).

A História Oficial provavelmente venceu o Oscar pela importância que teve em seu lançamento (quando os crimes de Jorge Videla e seus capangas apenas começavam a aparecer), já que está um pouco esquecido hoje em dia. Mas isso não tira os méritos deste filme que, mesmo imperfeito, é mais um bom exemplar do Cinema dos hermanos latinos. E claro, um lembrete do horror que as ditaduras perpetraram na dura história de nosso continente.
Ficha Técnica:
A História Oficial (La Historia Oficial, Argentina, 1985).

Direção: Luiz Puenzo.

Roteiro: Aída Bortnik e Luiz Puenzo.

Elenco: Norma Aleandro, Héctor Alterio, Chunchuna Villafañe, Hugo Arana, Guillermo Battaglia, Chela Ruíz, Patricio Contreras, María Luiza Robledo, Aníbal Morixe, Jorge Petraglia, Analia Castro, Daniel Lago, Augusto Morreta, Laura Palmucci, Leal Rey, Floria Bloise e Lidia Catalano.

 

Fonte: Sala de Projeção ( http://saladeprojecao.wordpress.com/2010/09/11/a-historia-oficial-1985/ )

 

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