Há alguns meses, a população de Mossoró percebeu a presença de refugiados venezuelanos, em especial nas paradas dos sinais de trânsito, em que grande parte deles encontra-se na situação de pedinte.
“A presença de estrangeiros ainda costuma causar certo impacto, curiosidade e, quando são indígenas, acredito que essa ‘estranheza’ se acentua. Na zona urbana, em nossa região, não estamos acostumados a ver indígenas transitando pelas ruas”, opina o professor Pedro Adrião, responsável pela Diretoria de Relações Internacionais e Interinstitucionais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – Daint/Uern.
A Universidade, por meio de seu Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros – Neab e do Grupo de Estudos Culturais – Gruesc, integra uma rede de acompanhamento e apoio ao povo Warao no Brasil.
Criado em 2007, o Neab tem por princípio desenvolver e estimular atividades de extensão e de pesquisa sobre temáticas relacionadas às questões de raça, cor e etnia.
De acordo com Adrião, as iniciativas promovem “a inclusão social dos Waraos, o acesso igualitário a serviços, à saúde, a benefícios sociais”.
Sheyla Pedrosa, coordenadora do Centro de Referência Especializado de Assistência Socia – Creas, também integrante da rede, procurou a Universidade em maio para tratar da questão a fim de obter capacitação de seus profissionais na cultura indígena.
De acordo com a coordenadora, “na sequência, fomos procurados pela professora Eliane Anselmo, do departamento de Ciência Sociais, que prontamente nos apresentou o Neab, e iniciamos a nossa parceria, que será fundamental para o processo de viabilização dos direitos sociais do povo Warao”.
Para viabilizar a adoção efetiva de políticas públicas, a Uern estabeleceu ainda cooperação com a Universidade Federal do Piauí – UFPI e a Universidade Federal de Roraima – UFRR, que possuem campus-sede em localidades com o mesmo tipo de demanda.
“O Neab imediatamente buscou essa parceria, através da professora doutora Carmen Lúcia, da UFPI, que vem acompanho o grupo no Piauí, realizando atividades em parceria com o professor doutor Carlos Cirino, da UFRR, e a professora doutora Jenny Gonzales, da UFMG, em diálogos com pesquisadores de universidades da Venezuela”, afirmou Eliane Anselmo, coordenadora do Neab/Uern.
Refugiados chegaram a Mossoró em momento de pandemia
Segundo Sheyla Pedrosa, do Creas, o desafio de atendimento a esse povo inclui ainda o momento sanitário de emergência. “Diferentemente de outros estados ou cidades do país, o povo Warao chegou ao município de Mossoró num contexto bastante complexo, em virtude da pandemia da Covid-19”, disse.
Pedrosa disse que o maior desafio hoje na relação com o povo Warao “tem sido a dificuldade de, no contexto da pandemia, convencê-los a ficar em casa e, mesmo quando isso não seja possível, que deixem as crianças em casa”.
“A princípio, identificou-se a necessidade de uma melhor qualificação da equipe para o trato com o povo Warao, tendo em vista tratar-se de uma realidade muito nova, porém, logo na sequência, tivemos decretada a pandemia, e as ações passaram a ser de cunho mais emergencial”, disse a coordenadora.
Contudo, Pedro Adrião, da Daint/Uern, observa que há progresso no trabalho desenvolvido. Na sua visão, “os Waraos, apesar das grandes diferenças e do choque cultural, têm tentado se adaptar à cidade de Mossoró, à nova cultura e ao novo estilo de vida. Porém, sempre mantendo seus hábitos e costumes”.