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Com falas que mesclaram dados históricos, experiências pessoais e objetivos futuros relacionados à luta pelos direitos feministas, a cerimônia de comemoração pelos 30 anos do Núcleo de Estudos Sobre a Mulher “Simone de Beauvoir” (Nem) foi realizada na manhã desta quinta-feira, no auditório da Faculdade de Serviço Social (Fasso).

O evento reuniu estudantes e docentes da Fasso e de outras faculdades, contando com mesa de abertura, debate com especialistas em estudos de gênero e apresentação do podcast Labcast Histórias de Desamor – projeto de extensão desenvolvido pelo Departamento de Comunicação que aborda o feminicídio.

Durante a solenidade de abertura, a reitora Cicília Maia destacou o fato de o núcleo se apresentar como um instrumento relevante não apenas para o desenvolvimento acadêmico dos membros, mas também para a comunidade além da Universidade.

“Isso que é extraordinário, que esse conhecimento não fique só na gente. O que a gente começa a refletir aqui, vai extrapolando também para os espaços onde ocupamos”, salientou a reitora.

Cicília Maia frisou ainda a contribuição do núcleo e das reflexões por ele fomentadas para a construção de políticas em diversos ambientes, incluindo a própria Universidade.

Para ilustrar a aplicação dos debates relacionados aos direitos feministas e às discussões sobre gênero, a reitora citou ações desenvolvidas na instituição nos últimos anos, como o estabelecimento da equidade de gênero nos cargos de gestão, a descentralização da Ouvidoria e a criação do Auxílio-Creche e da Diretoria de Ações Afirmativas e Diversidade (Diaad).

A professora Joana Lacerda, diretora da Fasso, relatou parte do processo de criação do Nem e o papel que o grupo teve para a formação profissional de um número expressivo de pessoas.

“Foi muito emocionante esse processo. A gente tinha pessoas que dialogavam bastante, pessoas da Enfermagem, da Educação, que estavam na gestão, por exemplo, e que apoiavam esse processo. A assim o Nem foi sendo construído”.

O evento ocorreu no auditório da Fasso

Também presente ao evento, a discente Damylle Cristiane, do Centro Acadêmico do Curso de Serviço Social, salientou a importância da participação dos estudantes no núcleo.

“É fundamental que os alunos se articulem e estejam presentes nessa luta, nessa construção, que segue para além dos muros da universidade, para debates com outras pessoas, principalmente com mulheres fora do campo acadêmico”, comentou.

Os debates relacionados ao grupo, acrescentou a professora Mirla Cisne, da Fasso, perpassam também outras discussões que não se limitam à defesa dos direitos feministas.

“O Nem tem esse foco, mas tem também essa perspectiva de uma sociedade igualitária, então isso passa também por questões como o racismo e a desigualdade de classe, porque estudamos as formas de violência e de violação de direitos. E para mudar essa sociedade como um todo, temos que mudar como mulher. A gente se fortalece como coletivo”.

A professora aposentada Telma Gurgel, que também participou da construção do Nem, apresentou um histórico sobre o avanço das pautas e movimentos feministas nas últimas décadas, além de ressaltar conquistas recentes que tiveram a participação das reflexões abordadas no núcleo, como a criação do Hospital da Mulher Parteira Maria Correia, em dezembro de 2022.

O impacto do núcleo na vida de pessoas dentro e fora da Universidade foi um dos temas abordados

“O Nem foi um sonho militante. Foi primeiramente o desafio de dizer que o machismo era cotidiano, está no dia a dia. Precisamos dizer pras mulheres que tínhamos que nos juntar e fortalecer o feminismo”, relatou, acrescentando ainda o papel do núcleo na vida das mulheres participantes.

A relevância do Nem na vida das pessoas que têm contato com as discussões fomentadas também foi apontada pela professora Iliana Diniz, da Fasso.

“O Nem se confunde com as próprias vidas. Quantas pessoas não já buscaram o Nem não só pra aprender, mas também para socializar situações, para que as pessoas ouvissem suas demandas? Nós temos uma responsabilidade de sempre buscar se capacitar para dar o retorno. A partir do Nem, muitas pesquisas se tornaram referência nacionalmente”.

“O Nem chegou na minha vida antes mesmo de eu chegar na universidade. Nós nem sabemos exatamente o impacto que ele tem na vida das pessoas, na formação de das mulheres, e isso demonstra que nosso trabalho é muito importante”, corroborou a professora da Fasso Suamy Soares, que também atua na Diaad.

A importância da criação do núcleo também foi apontada pela professora Fernanda Marques, que salientou o papel das discussões fomentadas para o estabelecimento de políticas abrangentes.

“A gente via no passado que a violência contra a mulher não era só uma questão de polícia, que não bastava haver uma delegacia, mas que que era um contexto que demandava diversas outras ações pra ser combatida”, destacou.

A professora recordou ainda o caso da professora da Fasso Roberta Cláudia, assassinada pelo ex-marido em outubro de 2003.

A professora Daiany Dantas apresentou o podcast Labcast Histórias de Desamor

“Essa discussão também é importante pra gente desmistificar essa ideia de que só quem sofre a violência doméstica são as mulheres pobres e negras”, acrescentou.

O caso da professora Roberta Cláudia também foi abordado no podcast Labcast Histórias de Desamor, apresentado pela professora Daiany Dantas, do Departamento de Comunicação Social.

Produzido juntamente com alunos do Curso de Comunicação Social, o podcast se propõe a analisar casos de feminicídio e o papel por eles ocupado na mídia.

Os episódios ainda não foram lançados oficialmente, mas ações do projeto podem ser acessadas em seu perfil no Instagram.

Caso presencie ou passe por uma situação de violência doméstica, rompa esse ciclo. Faça sua denúncia pelo canal 180 ou ligue para 190, com base na Lei Maria da Penha.