No mural da base de apoio do Projeto Cetáceos da Costa Branca, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), cartazes de crianças da comunidade de Diogo Lopes, em Macau, envolvidas nas ações sociais do projeto, desejavam boas energias para Gabriel, o primeiro peixe-boi marinho do Rio Grande do Norte a ser devolvido para seu habitat. “Aproveite o mar”. “Faça amigos”. “Que seja feliz”. “Boa sorte, Gabriel”. São alguns das mensagens para sua nova fase de vida, que teve início nesta quarta-feira, 31, quando ele foi solto ao mar.
Gabriel chegou ao Projeto Cetáceos com três dias de vidas, após ser encontrado por um morador em uma praia de Icapuí (CE). Ele foi atendido pela equipe da ONG Aquasis, do Ceará, que é parceira da Uern. Após os primeiros cuidados, ele foi para o Centro de Reabilitação de Animais Marinhos da Uern, em Areia Branca, onde passou quatro anos. No ano passado, ele foi transferido para o Recinto de Aclimatação da Ponta do Tubarão, em Diego Lopes, Macau.
“Antes de serem soltos, os animais precisam passar por um período de aclimatação às condições naturais, se adaptando aos movimentos e oscilações das marés e correntes marinhas e temperatura das águas, por exemplo. O Recinto de Aclimatação apresenta características naturais fundamentais para os animais no período de aclimatação e soltura”, explica o coordenador-geral do Projeto Cetáceos, o biólogo Flávio Lima,
Após cinco anos de cuidados e preparação, Gabriel estava pronto para retornar ao seu habitat. E quem disse que Gabriel queria deixar a vida de cuidados dentro do projeto cetáceos para se aventurar em alto mar? Uns 30 minutos após abrir a porteira do Recinto de Aclimatação, ele se recusava a sair de espontânea vontade. Foi necessário uma equipe multiprofissional intervir para que o peixe-boi pudesse sair do recinto e desbravar novas historias em mar aberto.
Mas ele não estará sozinho nessa empreitada. Por mais um ano, Gabriel continuará sendo monitorado pela equipe do Projeto Cetáceos. “O peixe-boi contará com um equipamento de rastreamento, que quinzenalmente nos dá o sinal de localização. Por meio dessas informações, podemos saber o ambiente onde ele está, se ele está bem adaptado ou se precisa de alguma intervenção. Caso seja observado este último, nós podemos recapturá-lo para poder fazer exames e retomar o trabalho para nova devolução do peixe-boi ao meio ambiente”, explica Flávio Golfinho.
A soltura de Gabriel envolveu cerca de 30 profissionais de diferentes áreas. O momento histórico contou com a participação de representantes da Uern, equipe do Projeto Cetáceos, da Fundação para o Desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Rio Grande do Norte (Funcitern), da Petrobrás, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do RN (Idema) e moradores da região.
Para a reitora Cicília Maia, é uma alegria poder participar desse momento histórico, que é a soltura do peixe-boi Gabriel. “A soltura de Gabriel e retorno ao seu habitat estão alinhados com as ações da Agenda 2030, no ODS 14, que trata da conservação e uso sustentável dos oceanos, e proteger os ecossistemas marinhos”, observa.
Ela destaca que o Projeto Cetáceos desenvolve um importante trabalho de cuidado ao meio ambiente há quase 25 anos. “O Cetáceos reúne características essenciais da Universidade, com ações de ensino, pesquisa e extensão. Além disso, desenvolve ações voltadas para a sociedade, e com a comunidade integrada conosco nesse trabalho de preservação do ambiente”, declara.
Conforme Flávio Lima, o Projeto Cetáceos está acompanhando 18 peixes-bois marinhos, sendo cinco no Recinto de Aclimatação da Ponta do Tubarão, em Diego Lopes, e 13 no Centro de Reabilitação de Animais Marinhos da Uern, em Areia Branca. “Estamos fazendo o trabalho para poder fazer a soltura desses animais”, afirma.
O peixe-boi marinho é uma das espécies de mamíferos aquáticos com maior risco de extinção no Brasil. A região da Costa Branca no Rio Grande do Norte é um dos principais locais de encalhes de filhotes da espécie, provavelmente devido às alterações naturais dos ambientes costeiros e marinhos e às atividades humanas na área.