Se um cirurgião do século XIX fosse transportado para os dias de hoje, ele não teria ideia do que fazer com as novas tecnologias e avanço na saúde. O mesmo aconteceria com diferentes profissões que foram modificadas pela tecnologia. No entanto, um professor do século XIX fosse transportado para os dias atuais encontraria a mesma lousa, os mesmos estudantes enfileirados, o mesmo modelo de sala de aula daquela época.
O surgimento das novas tecnologias tem impactado em significativas mudanças nas relações sociais, na forma de trabalho, nos tipos de inteligências, entre outros aspectos. O ensino, por sua vez, apresenta dificuldades, e até certa resistência, para se moldar a essa nova realidade do mundo tecnológico.
Até 2020, quando o mundo foi pego de surpresa e precisou de adaptar às imposições da pandemia do Covid-19, reuniões virtuais, aulas remotas e teletrabalho eram conceitos que pareciam bem distantes da realidade. Hoje, as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, as chamadas NTIC’s, estão cada vez mais presentes no cotidiano, seja na indústria, comércio, medicina, comunicação, serviços e, claro, na educação.
“Fomos pegos de surpresa e tivemos que reinventar a nossa sala de aula. Durante o período de pandemia, as tecnologias foram grandes aliadas no processo de ensino, o que leva a crer que o uso da tecnologia na ser um caminho sem volta”, avalia a Profª. Dra. Ceres Germanna, do Departamento de Informática da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern).
Mesmo do grupo de pesquisa Tecnologias Educacionais (GTEC), a pesquisadora busca compreender como a tecnologia pode influenciar e pode auxiliar no processo de ensino e aprendizagem. “Hoje a tecnologia está bem mais democrática. As pessoas têm acesso a ela com mais facilidade, por isso é importante discutir como podemos aliar os avanços tecnológicos à educação, de modo a incentivar a crianças e adolescentes a se beneficiarem do uso destas ferramentas para o aprendizado”, pondera a pesquisadora.
Ela destaca que as pesquisas na área são feitas desde a educação básica. “Os nossos estudos têm o intuito de avaliar de que a forma podemos utilizar os conceitos de computação, de informática em sala de aula nas diferentes áreas de conhecimento: português, matemática, ciências, entre outros”, informa. Paralelo ao desenvolvimento de ferramentas tecnológicas educacionais, também há a necessidade da formação dos professores da educação básica para que eles possam se apropriar do uso das tecnologias, e transformar os celulares, tablets, jogos como aliados em sala de aula.
“Muitas escolas têm uma visão muito tradicional. Muitas escolas proíbem, inibem o uso da tecnologia, muito talvez por terem medo daquilo ali estar ‘substituindo’ o professor, mas é algo que nunca vai ocorrer. Porque a gente sabe que por mais que a tecnologia esteja avançando, ela nunca irá substituir a figura do professor, mas sim ser uma ferramenta para auxiliar o ensino”, declara a professora.
Ceres Germanna ressalta que não há um “manual” de qual o melhor procedimento a adotar para otimizar a relação tecnologia e ensino. “Cabe a nós, enquanto pesquisadores, propor diretrizes, com base em estudos comprovados, sobre a melhor forma de utilizar as tecnologias como aliada do ensino, do professor”, diz. E complementa: “No nosso grupo de pesquisa, temos buscado desenvolver aplicações que possam ser utilizados dentro e fora de aula para os estudos”, informa.
Para ela, não exista ainda um passo a passo, uma melhor forma de como fazer essa junção. “As pesquisas buscam descobrir e tentar formas de utilizar a tecnologia para os estudos, desenvolver aplicações que prendem a atenção das crianças e jovens, que tornem o estudo mais empolgante e motivante, e que ajudem o professor no processo de ensino”, diz.
APLICAÇÕES
No grupo de pesquisa do Departamento de Informática da Uern vem sendo desenvolvidos alguns aplicativos para este fim. Em 2017, pesquisadores do curso desenvolveram um aplicativo voltado para o letramento de crianças: o Cubo Kids. O aplicativo permite o uso da tecnologia de forma educativa e é voltado para crianças de 2 a 5 anos. Além das imagens em 3D, o Cubo Kids emite sons de animais e faz a tradução para o inglês.
“Fizemos estudos nas escolas, publicações e comprovamos que o aplicativo realmente tem trazido resultados”, destaca a professora, ressaltando que o grupo de pesquisa está trabalhando no desenvolvimento de outras ferramentas para o ensino.
Uma delas é um aplicativo voltado para o ensino de Biologia. Trata-se de um quiz, que estimula o conhecimento através de um jogo. “Pretendemos registrar a aplicação em dezembro”, informa. Ainda está sendo desenvolvido aplicação que usa a realidade aumentada também para o ensino de Biologia, dentro do projeto LumiAR (Lumi, de Luz, e AR, de Augmented Reality – Realidade Aumentada)…
Também, dentro do GTEC, professores pesquisadores estão trabalhando com a aplicação de jogos na Educação especialmente voltado para o ensino da matemática, bem como com o desenvolvimento de estudos sobre o uso da Inteligência Artificial na educação, com a análise de dados para compreender e evitar a evasão escolar, e análise de dados e recomendação de objetos de aprendizagem sobre robótica educacional.
“Atualmente, se faz cada vez mais necessário a gente conhecer e aplicar tecnologia em sala de aula porque essa é uma realidade que não podemos fugir. Independente de nível de conhecimento, seja ensino fundamental, médio, universidades a tecnologia está presente no ensino. Estamos lidando com a geração polegarzinho, que já nasce sabendo nasce querendo utilizar tecnologia, é uma geração curiosa que quer tudo ali na palma da mão e que eles têm tudo na palma da mão. Então por que não aliar a tecnologia ao conhecimento que a gente quer promover?”, questiona Ceres.
Ela ressalta que em vez de coibir, é preciso pensar alternativas sobre a melhor forma de utilizar a tecnologia para a educação. “Buscar a melhor forma de estimular essas crianças, adolescentes, adultos, incentivar e capacitar os professores para que eles possam ter melhor proveito do uso da tecnologia, conheçam as aplicações, ferramentas. Se bem utilizada, a tecnologia realmente é algo que é favorável para o processo de aprendizagem”, finaliza a pesquisadora.