Maioria dos pacientes com doença de Chagas não têm conhecimento sobre a endemia

Frequentemente chamada de “doença silenciosa e silenciada”, pois a maioria dos infectados não apresenta sintomas ou apresenta sintomas extremamente leves, a doença de Chagas atinge milhões de pessoas e representa um grade desafio para as autoridades de saúde pública. Aliado ao diagnóstico tardio, a falta de acesso a serviços de saúde e a negligência da doença dificultam o controle e o tratamento eficaz.

Um retrato dessa realidade ocorre na zona rural de Caraúbas (RN), considerada uma área endêmica da doença. Estudo desenvolvido pela mestranda Ana Beatriz da Silva, do Programa de Pós-graduação em Saúde e Sociedade (PPGSS), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), apontou que a maioria dos pacientes que possuem doença de Chagas não têm conhecimento da sobre a doença ou um conhecimento deficiente sobre o diagnóstico e tratamento.

A pesquisa, orientada pela Profa. Dra. Ellany Gurgel, foi desenvolvida nas comunidades rurais de Apanha Peixe, São Geraldo, Boágua e Sítio Moreno, que é são unidades macros que abrangem pacientes de várias outras comunidades. “São áreas endêmicas, onde muitos dos pacientes vivem em situação de vulnerabilidade”, informa Ana Beatriz da Silva.

Pesquisa foi desenvolvida por Ana Beatriz, orientada por Ellany Gurgel – Fotos: Ênio Freire

O estudo utilizou o modelo de avaliação intervenção e empoderamento comunitário, que é um referencial teórico desenvolvido em Portugal, que tem como objetivo integrar o empoderamento comunitário na prática clínica dos enfermeiros, utilizando a comunidade como unidade de cuidados. Ele funciona como um processo que envolve avaliação do nível de empoderamento, intervenção para aumentá-lo e a avaliação do impacto dessa intervenção.

Uma dessas intervenções ocorreu no dia 23 de agosto, com ações do projeto Mutirão Itinerante do Ambulatório de Doença de Chagas da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Adoc/Uern) na comunidade de Apanha Peixe, Caraúbas (RN). O projeto faz parte do Programa Integrado de Cidadania e Sustentabilidade no Semiárido do Oeste Potiguar (PROSOL), que se refere as ações de extensão na pós-graduação, com financiamento pelo edital do Programa de Extensão da Educação Superior na Pós-Graduação (PROEXT-PG) de 2023, da Capes.

Com base na pesquisa, as ações de intervenção e orientações sobre a doença de Chagas serão voltadas para pacientes, familiares, profissionais de saúde e gestores dos municípios.

“Identificamos nos estudos que este público possui conhecimento deficiente sobre a doença e a área tem uma liderança comunitária comprometida, a partir disso, a gente pensou em como poderia intervir. Uma das propostas foi o mutirão com ações em educação em saúde para trabalhar na perspectiva de difusão do conhecimento sobre a prevenção, cuidados e tratamento da doença de Chagas”, revela a mestranda.

Atualmente, a equipe de profissionais de saúde acompanham 40 pacientes com doença de Chagas e seus familiares. Ana Beatriz destaca que o intuito da pesquisa e das intervenções em saúde é levar conhecimento para a comunidade, equipe de saúde e a população em geral sobre a doença de Chagas, como prevenir, como tratar.

“Embora seja uma doença silenciosa, negligenciada, que não tem tantos investimentos, a doença de Chagas têm um índice endêmico muito alto e um grau de mortalidade elevado. Então, a gente espera com essas intervenções conseguir orientar e empoderar a comunidade na perspectiva de trabalhar a prevenção e a promoção de saúde”, finaliza a pesquisadora.